O mundo das telenovelas é
incerto e ninguém sabe o rumo que uma história pode tomar com os imprevistos
que podem surpreender uma produção em andamento. Muitas vezes por conflitos com
a produção, problemas pessoais ou de saúde, alguns protagonistas ou atores de
elenco são substituídos por outros. Em alguns casos, essas saídas podem ser
justificadas com a morte do personagem, mas, em outras, são simplesmente
substituídas, deixando o público um tanto confuso. Para bem ou para mal, os
escritores enfrentam um desafio ao recompor as histórias; às vezes, são
bastante engenhosos, outras, nem tanto.
Desde o início da produção de
telenovelas, há pouco mais de sessenta anos, são pouquíssimas as produções que
começam a ser exibidas totalmente gravadas. As telenovelas entram no ar com uma
média de quarenta capítulos gravados, raras vezes com quinze, dez e até mesmo
cinco capítulos prontos. Como se trabalha com pessoas, o que não faltam são
imprevistos detrás das câmaras.
Jorge Mistral |
Começando pelos anos 70, temos
a produção Hermanos Coraje, telenovela realizada pela Panamericana Televisión,
do Peru, e Televisión Independiente de México, baseada na obra da autora brasileira
Janete Clair. Nesta ocasião, o suicídio do ator Jorge Mistral, o intérprete do
vilão da história, que na vida real estava passando por um período depressivo,
devido a um câncer detectado no duodeno, colocou em apuros os produtores que
tiveram que buscar um substituto para o papel, outro ator durão, com aspectos
físicos parecidos ao de Mistral, para que desse vida ao cruel Pedro Barros. O
escolhido, então, foi Armando Calvo, que seguiu o caminho traçado por Mistral e
simplesmente gravou a telenovela até o seu final.
Em 1972, a RCTV produz La
doña, a primeira versão da história que renderia diversas outras adaptações,
inclusive uma brasileira e a mais recente versão mexicana Soy tu dueña. Nesta
ocasião, Lila Morillo, em seu primeiro papel protagônico, interpretava Doménica,
uma doce mulher que após ser abandonada no dia de seu casamento passava por uma
grande transformação de personalidade. Entretanto, faltando apenas sete dias
para o final da telenovela, a protagonista foi despedida por não cumprir com os
horários de chegada às gravações. Com sua saída, convidaram Agustina Martín para
a personagem de Doménica, e o melodrama foi cortado abruptamente em uma semana.
Nessa mesma década, no México,
quando a televisão em cores chegava a muitos países, inclusive no Brasil, o
sucesso brindava as produções de Valentín Pimstein e a versão original de Os
ricos também choram, de 1979. No entanto, o melodrama sofreria uma perda
significativa em seu elenco com uma greve entre o sindicato de atores da época e
um problema pessoal de uma atriz que fizeram com que três atores do elenco
fossem retirados da produção. Miguel Palmer, Columba Domínguez e Alicia
Rodríguez se ausentaram da telenovela, sendo substituídos por outros atores que
não desafinaram em nada e a produção seguiu com o mesmo êxito em terras astecas
e em outros países como no Brasil e no Peru, onde a transmitiam quase que
simultaneamente com o México, devido ao acordo que a América Televisión havia
firmado com os executivos da Televisa.
Também em 1979, na telenovela
Estefanía, produção venezuelana da RCTV, protagonizada por Pierina España e
José Luis Rodríguez “El Puma”, o então solicitado ator e cantor recebe uma
oferta internacional que o obriga a deixar a produção; matam seu personagem e
um papel secundário interpretado por Carlos Olivier sobe ao nível de
protagonista e fica com a heroína ao final da história.
Nos anos oitenta, também
ocorreram mudanças nas telenovelas, uma delas foi em 1983, em A fera, quando Lupita
Lara teve que retirar-se durante a rodagem da trama e foi substituída por Nuria
Bages, no papel de Helena. Outro substituído foi Alfredo Alegría, que deixou
seu personagem, Lupito, para Alfonso Iturralde.
Edith González |
Em Rosa selvagem, de 1987,
realizada pela Televisa, Leonela, interpretada por Edith González sofreu uma
mudança de atriz e foi substituída por Felicia Mercado. Conta-se que Edith tinha
problemas com Verónica Castro, a protagonista da telenovela, além disso, que não
estava contente com o rumo que sua personagem teria na história. Se bem que a
mudança não tenha prejudicado em nada a produção, o talento de Edith se notou superior
ao de Felicia, que recentemente havia começado no universo da atuação.
No ano de 1986, o remake de El
amor tiene cara de mujer, intitulado Principessa e produzido por Valentín
Pimstein, sofreu várias mudanças. Devido à quilométrica duração da telenovela, vários
personagens foram interpretados por mais de um ator. Fernanda, inicialmente interpretada
por Angélica Aragón, que saiu da produção para protagonizar Vivir un poco, foi vivida
por Alma Muriel, que, posteriormente, também se retirou para protagonizar Los
años felices. Finalmente a personagem ficou nas mãos de Hilda Aguirre. Outra
mudança foi a substituição de Manuel Saval por Gerardo Paz e Roxana Saucedo por
Cristina Rubiales.
Também em 1986, durante as
gravações de Monte Calvario, uma produção de Valentín Pimstein protagonizada
por Edith González e Arturo Peniche, Odiseo Bichir substituiu Alfonso Iturralde
no papel de Roberto. O motivo foi porque o ator não chegou a um acordo de
pagamento com a produção.
Doris Wells |
Ainda em 1986, a venezuelana
RCTV produz La dama de rosa, telenovela original de José Ignacio Cabrujas, que,
originalmente, seria protagonizada por Jeannette Rodríguez, Gustavo Rodriguez e
Doris Wells. Em etapa de pré-produção, Doris se nega a participar do projeto
alegando que devido sua ampla trajetória merecia o primeiro crédito, acima de Jeannette,
querendo que seu papel fosse protagônico e não co-protagônico. Em seguida, a
atriz foi substituída por Nancy González, que gravou alguns capítulos. Não
passou muito tempo quando ela e o ator Gustavo Rodríguez foram separados
abruptamente da produção por problemas de drogas. Como a telenovela já estava
no ar na Venezuela, Gustavo teve que ser substituído às pressas por Carlos Mata
que havia sido o par romântico de Jeannette em Cristal. Para o mercado
internacional, Carlos Mata teve que regravar todos os capítulos já feitos por
Gustavo, que foram cerca de dez, enquanto que na Venezuela a telenovela seguia
no ar. A pressão para o ator foi tanta que sua saúde foi afetada. O papel que
nem Doris Wells, nem Nancy González puderam fazer caiu nas mãos de Dalila
Colombo, que apareceu nos primeiros capítulos e logo desapareceu, reaparecendo
com a história já avançada. Com a saída temporária da personagem, Gigi
Zanchetta, que entrou como figurante assumiu o lugar de protagonista,
contracenando com Fernando Carrillo, cuja relação traspassou para a vida real.
Em 1987, Amanda Gutierrez
protagoniza com grande destaque a telenovela noturna da Venevision intitulada
La luna, junto ao galã porto-riquenho Carlos Cesteros. Desde o princípio, a
relação do galã com a Amanda era mais que péssima; conta-se que ele chegou a
faltar com respeito a ela e esta pressionou aos executivos pedindo que
escolhessem entre ela ou ele. De um capítulo para outro mataram o personagem de
Cesteros e Amanda ficou sozinha em seu protagônico, ainda que a subtrama
juvenil de Ruddy Rodríguez e Luis José Santander tenha sido reforçada e eles se
tornaram o par romântico desta desafortunada telenovela.
Alma mía, telenovela
venezuelana da RCTV, realizada em 1988, marcou a carreira de Astrid Carolina
Herrera. Sua imagem correu por todo o continente quando se tornou a única
protagonista desta história, já que Nohely Arteaga abandonou a produção por motivo
de gravidez. Este detalhe fez com que a telenovela conseguisse ainda mais fama
porque quando Nohely deixou a produção, vários meios da Venezuela e de países
que exibiam a telenovela, disseram que entre as duas atrizes havia certa
rivalidade que inclusive havia chegado aos tapas pelos camarins. No entanto, quando
Nohely esclareceu os verdadeiros motivos pelos quais decidiu abandonar a
telenovela a tensão baixou consideravelmente. Inclusive foi convidada por
vários programas junto a Astrid Carolina Herrera. Entre elas nunca houve
rivalidade e sempre eram vistas juntas, sobretudo após o nascimento do filho de
Nohely.
Mariana Garza |
Em Flor y canela, uma produção
de Eugenio Cobo, também de 1988, para Televisa, Mariana Garza era a
protagonista Marianela. Entretanto, abandona a produção por problemas de saúde
e é substituída por Daniela Leites.
Em Rubí rebelde, de 1989, produzida
pela RCTV, o papel da vilã principal, interpretado por Yajaira Orta teve que
ser substituído de emergência. Yajaira foi diagnosticada com tuberculose e foi
substituída por Dalila Colombo, que desde o capítulo 42 até o final interpretou
a malvada Lucrecia Miranda. Vale destacar que paralelamente a esta telenovela,
Dalila trabalhava na telenovela Abigail, sucesso em vários países - menos no
Brasil, onde saiu do ar - protagonizado por Catherine Fullop e Fernando
Carrillo, em um papel menor. Durante as gravações de Rubí rebelde uma nova
mudança ocorre, Mariela Alcalá, a protagonista, engravida na vida real e sua
gravidez é escondida o máximo possível até que sua personagem, Rubí, também
ficasse grávida. Entretanto, Mariela é acometida por rubéola e se ausenta uma
semana da telenovela com um princípio de aborto. Sua personagem continua nas
mãos da atriz María Alejandra Martín, cujas cenas gravadas foram vistas somente
na Venezuela, já que para o exterior, a atriz pôde gravar os capítulos feitos
por sua substituta.
Também em 1989, durante as
gravações de Carrossel, Augusto Benedico, ator espanhol intérprete do
personagem Firmino, falece vítima de um infarto. Armando Calvo é escolhido para
substitui-lo, a troca foi notória e o personagem original jamais foi esquecido.
Outa mudança foi a mãe de Maria Joaquina, vivida por Ludwika Paleta: Clara
Villaseñor, originalmente interpretada por Karen Senties, deixa a
telenovela e é substituída por Kenia Gazcón.
Ainda em 1989, quando Lucía
Sanoja atuava em Maribel, uma produção da Venevision, protagonizada por Tatiana
Capote e José Luis Santander, foi despedida por ordem expressa do já falecido
produtor Joaquín Riviera, já que na empresa estavam fartos da
irresponsabilidade de Lucía, que se sentia uma diva e chegava tarde às
gravações. Sua personagem, Estrella Luna, foi substituída por Imperio Zammataro.
Um comentário:
Rosa Selvagem é de 1987!
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