quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Do original ao remake: Doña Bella


Em seu período de implantação, como também no seu primeiro ano de funcionamento, em 1983, a Rede Manchete não tinha nenhum plano de investimentos em área de dramaturgia. A decisão de investir neste segmento veio em 1984, quando colocou no ar a minissérie Marquesa de Santos, uma história de época baseada em fatos reais estrelada por Maitê Proença e Gracindo Júnior.

Abrindo o horário das 21h15 para a dramaturgia, a Rede Manchete passou a apostar nos mais diversos gêneros de minisséries, indo desde uma simples história do cotidiano social às tramas policiais. Em 1985, apostou em produções de capítulos mais longos, nascendo a partir daí a sua primeira telenovela: Antônio Maria.

Mas foi em 1986 o ano em que o núcleo de dramaturgia da Rede Manchete conquistou um grande espaço na mídia nacional, ao anunciar o lançamento de uma superprodução de época: Dona Beija, telenovela que novamente trouxe o casal Maitê Proença e Gracindo Júnior à tela da emissora para, desta vez, dar vida à história de Ana Jacintha de São José, a Dona Beija, uma das personalidades históricas mais influentes de Minas Gerais no século 19.

Alcançando elevados índices de audiência em todo o Brasil, Dona Beija consagrou-se como o primeiro grande sucesso do departamento de telenovelas da Rede Manchete, além de marcar o início de uma fase muito prestigiosa na emissora, que, por várias vezes, chegou ao segundo lugar na audiência no horário, atingindo um média de 15 pontos no Ibope.

Baseada no romance Dona Beija, a feiticeira do Araxá, de Thomas Leonardo, e em A vida em flor de Dona Beija, de Agripa Vasconcelos, a história para a telenovela foi adaptada por Wilson Aguiar Filho e dirigida por Herval Rossano. A trama foi contada em 89 capítulos e mesmo usando uma linguagem atual, não perdeu o caráter de obra de época. Na ocasião, a Manchete investiu vinte milhões de cruzados em sua produção para fazer com que a telenovela tivesse cenários e figurinos condizentes com a paisagem brasileira do século em questão.

Foram gastos três milhões de cruzados só na construção de uma cidade cenográfica em Santa Cruz, na zona rural do Rio de Janeiro, para fazer as vezes do Arraial de São Domingos dos Araxás, onde transcorria a trama. Com oito mil metros quadrados, a cidade cenográfica abrigava igreja, cemitério, pelourinho, um punhado de casas e até um aviário, com 300 galinhas, perus e patos. O único senão no Arraial dos Araxás da telenovela era o pequeno número de figurantes. Permanentemente, a cidade parecia habitada por apenas vinte pessoas. Mesmo para um arraial mineiro de 1820, era uma população pequena.

O enredo de Dona Beija, no entanto, ofereceu motivos de sobra para atrair a atenção do espectador. O forte na telenovela da Manchete era a trama amorosa, com fartas pitadas de erotismo. Na semana de estreia, Maitê Proença apareceu com os seios nus em três cenas. Na primeira, ela se banhou numa cachoeira, a metros da câmera. Depois, se untou com a lama medicinal de Araxá, já mais próxima do espectador, mas de lado. Na terceira cena, a atriz se mostrou bastante, abraçando Gracindo Júnior.

Dona Beija escorou sua eficácia em dois pilares. Em primeiro lugar, privilegiou a ação e a rápida sucessão de acontecimentos. Só no capítulo de estreia, o espectador viu Ana Jacinta de São José nascer e receber o apelido de Beija, por ter a vivacidade de um beija-flor, soube, também, que ela era filha de mãe solteira e acompanhou o crescimento da menina. Ainda no mesmo capítulo, morreram os avós e a mãe de Beija, que ficou noiva de Antônio Sampaio, mas foi raptada pelo ouvidor do rei, Joaquim Inácio Silveira da Mota. A segunda virtude de Dona Beija foi ter conciliado satisfatoriamente a época em que se passa a telenovela, na primeira metade do século 19, com a modernidade.

Estiveram no elenco grandes nomes da teledramaturgia brasileira, entre eles Arlete Salles, e Sergio Mamberti, além de Sérgio Britto, Maria Fernanda, Edwin Luiz, Jaime Periard, Maria Isabel de Lizandra, Léa Garcia, Antonio Pitanga, Castro Gonzaga e Jacqueline Laurence.

Dona Beija foi assistida por um total de quinze países, entre eles, Argentina, Panamá, Peru, Venezuela, Estados Unidos e Japão. No Brasil, além da primeira exibição, em 1986, rendeu mais três reprises, uma em 1988, outra em 1993 e a mais recente em 2009, dessa vez pelo SBT, às 22h30, que diante da baixa audiência, oscilando entre 4 e 5 pontos, optou por cortar algumas cenas da trama, antecipando o seu final.

A trama relatava a trajetória da corajosa Ana Jacintha de São José, a Dona Beija (Maitê Proença), na cidade mineira de Araxá, no século 19. A moça amava Antônio Sampaio (Gracindo Júnior), um homem de família conservadora e tradicional, e era alvo do desejo de Mota (Carlos Alberto), o ouvidor do Rei em visita a Araxá.

Depois de presenciar a morte do seu avô, Beija é raptada e levada para a vila de Paracatu, onde o ouvidor mora em um belo casarão. Para vingar-se do seu algoz, quando ele está fora de casa, Beija serve aos homens que a desejam em troca de jóias e ouro. Chamado pelo imperador a instalar-se na Corte, Mota deixa a mulher, que a essa altura já juntou uma grande fortuna. Então, ela parte de volta para Araxá para encontrar sua grande paixão, Antônio.

Porém, Antônio já não espera mais por Beija. Desiludido e sem compreender as atitudes de sua amada, ele casa-se com a doce Aninha (Bia Seidl), moça frágil e delicada que sempre o amou. Com isso, Beija promete não amar a nenhum outro homem e funda a Chácara do Jatobá, um bordel refinado que escandaliza todas as famílias conservadoras do povoado.

A chácara prospera, Beija se torna poderosa e envolve-se com João Carneiro de Mendonça, mas não consegue se desligar de Antônio, o homem de sua vida, até que uma tragédia acontece: Beija manda um escravo chamado Ramos matar Antônio, após, se arrepende, mas o crime acontece. Ela vai a julgamento mas é absolvida devido a mudança no depoimento de Ramos. Desiludida, Beija deixa Araxá e recomeça uma vida honesta.

Dona Beija foi uma mulher que viveu à frente de seu tempo, sem se importar com as regras impostas pela sociedade. Foi e continua sendo um mito fascinante não só na cidade de Araxá, mas em todo o país e pelo mundo. Tanto é que o sucesso da telenovela alcançado no mercado latino-americano rendeu uma versão em língua hispânica: Doña Bella, telenovela produzida pela colombiana RCN Televisión para a TeleFutura, em 2010.

Realizada recentemente e protagonizada por Zharick León e Fabián Ríos, Doña Bella teve 120 capítulos e esteve baseada nos livros que contam a história da brasileira Dona Beija, porém com uma roupagem mais latina. Adaptada pela roteirista e escritora chilena Daniella Claudia Castagno Ayala, a trama foi produzida por Armando Barbosa e Federico Castillo e gravada na Colômbia sob a direção de Toni Navia.

A versão original do clássico da Manchete foi tomada como referência para a produção de Doña Bella, mas esta deixou de lado os aspectos históricos e culturais brasileiros que serviram de pano de fundo para as atuações de Maitê Proença e Gracindo Júnior em 1986, dando vez à história de uma bela mulher que se apaixona pelo membro de uma família conservadora e que tem sua beleza como pior inimiga ao ser sequestrada por um poderoso homem de negócios que se aproveita dela e logo a abandona.

A trama da RCN, vendida para diversos países, entre eles Costa Rica, Espanha, Estados Unidos, Equador, México, Panamá, Paraguai, Peru, Porto Rico, República Dominicana e Venezuela, conta a história de Bella Cepeda (Zharick León), uma linda mulher que vive em um povoado e é apaixonada por Antonio Segovia (Fabián Ríos), um homem de familia conservadora.

Certo dia, Bella é sequestrada pelo poderoso empresário Román Montero (Marcelo Buquet), e é levada para sua mansão, onde torna-se sua amante. Bella espera ser resgatada, mas ninguém acredita que Román a tenha sequestrado, inclusive seu pretendente que, ferido, acredita que ela se foi com Montero por interesse.

Como se o destino não tivesse sido suficientemente cruel com ela, Bella recebe outro golpe quando seu avô morre, ficando sozinha no mundo. Abandonada e humilhada, não tem mais remédio que se entregar a Román. Em seguida, para se vingar, Bella decide satisfazer a todos os homens que a desejam em troca de ouro e jóias. Assim, torna-se milionária e, uma vez que Román é obrigado a voltar à capital por motivos de trabalho, ela se instala no povoado de Agua Hermosa com a esperança de voltar a se encontrar com seu amado, Antonio.

Porém, Antonio, pelas grandes pressões familiares e sociais, não pode perdoá-la e se casa com outra mulher. Bella, sentindo-se rejeitada e humilhada, decide se vingar: instala nesse povoado um bordel onde ela é a única prostituta. Ali se entrega a todos os homens ricos, causando ciúmes ao amor que a desprezou. Todos os homens podem tê-la, menos Antonio.

No entanto, o grande amor entre Bella e Antonio é muito intenso e não pode ser esquecido, de tal forma que tornam-se amantes, passando por cima do fato de ele estar casado com Evangelina (Stephanie Cayo) e ter vários filhos, o que a torna odiada e ainda mais rejeitada por grande parte do povoado. Porém Bella trata esse assunto com muito cuidado e, inclusive, também terá uma filha com Antonio.

Esse laço de amor entre ambos marcará por muitos anos suas vidas e a dos habitantes do povoado, em especial a de Andrés Mendoza (Pedro Rendón), que será o eterno causador da discórdia e que, além disso, terá outra filha com Bella.

Uma história que começa tão mal, não poderia terminar de modo diferente. Angustiada pelos constantes ciúmes doentios e abusos de Antonio, Bella contrata alguém para que assassiná-lo. No entanto, se arrepende e trata de evitar uma desgraça a todo custo, porém já é tarde demais.

Além das atuações de Zharick León, Fabián Ríos e Marcelo Buquet nos papéis principais, Doña Bella contou, também, com a presença de Luis Fernando Salas, Stephanie Cayo, Jorge López, Javier Delguidice, Pedro Rendón, Xilena Aycardi, Armando Gutiérrez, Gloria Zapata, Gloria Montoya, Alfonso Ortiz, Luis Fernando Munera, María Luisa Flores, Daniel Flores, Edmundo Troya, Sandra Pérez, Luis Enrique Roldán, Linda Lucía Callejas, Juan Pablo Obregón, Alejandra Ávila, Margarita Amado, Ana María Oyola, entre outros.
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Um comentário:

Anônimo disse...

Queria muito ver essa Dona Bella,tomara que o sbt compre.