Que os melodramas escritos
pela cubana Delia Fiallo são os mais famosos na história das telenovelas na
América Latina e no restante do mundo, onde são transmitidos, todos sabem. E um
deles foi Una muchacha llamada Milagros, telenovela exibida pela Venevisión em
1974 e produzida por José Crousillat, quem colocou em cena Rebeca González,
José Bardina e José Luis Rodríguez, sendo uma das histórias mais longas da
televisão na época, contanto com 229 episódios.
Com esta história, Delia
Fiallo ingressou na categoria das telenovelas didáticas, muito populares ao
final dos anos 70, mas, com ela, também criou seu primeiro herói estuprador. O
dramalhão contava a história de Juan Miguel Zaldivar (José Bardina), um
prestigioso psiquiatra dedicado à reabilitação de jovens rebeldes e
delinquentes, que encontrava nesse trabalho o consolo para o vazio que sentia
em seu casamento com a frívola Viviana (Nury Flores), e também para o remorso
por um crime cometido em sua juventude.
Certa noite, há alguns anos
atrás, Juan Miguel, bêbado, abusou de uma garota. O destino fazia com que mais
adiante descobrisse entre suas pacientes a jovem Milagros (Rebeca González), a
vítima de sua agressão. Ela não o reconhecia e ele, empenhado em reabilitá-la,
a levava para morar com o juiz Clemente Ruiz (José Oliva). Cecilia, a esposa do
juiz, não se agradava em ter Milagros com ela, já que isso incomodava Mónica (Haydee
Balza), a suposta filha perdida que ela e seu esposo tinham acabado de
reencontrar.
Viviana morria em um naufrágio
e Mónica iniciava um romance com Juan Miguel, e ao descobrir que ele amava
Milagros, tratava de prejudicá-la, acusando-a de roubo. Seus pais acreditavam
na mentira, mas Juan Miguel decidia casar-se com Milagros. Em sua noite de
núpcias, e justamente após fazerem amor, Milagros recuperava a memória e
reconhecia em seu marido o estuprador que a violou no passado.
Esta história deu o que falar
e superou a audiência de Peregrina (que originou Kassadra), telenovela que
Rebeca González e José Bardina haviam protagonizado um ano antes, também
original de Delia Fiallo. Para os que a viram a recordam como uma das primeiras
telenovelas de estilo juvenil. Nela se retratava a vida da juventude dos anos
setenta, quando se estava em moda a cultura e o estilo da vida hippie.
Durante as gravações, sua
protagonista ficou grávida e esta situação teve que ser incorporada à trama até
o término de sua gravidez. Coincidentemente, a atriz deu a luz na vida real no
mesmo dia em que sua personagem na exibição do capítulo da telenovela. Muitos
ainda se lembram de dois personagens marcantes: um interpretado por José Luis
Rodríguez, como Omar Contreras, a quem apelidavam de “El Puma”, apelido este
que acompanha o ator e cantor desde então até hoje, e uma mulher de dupla personalidade
Irene/Giovana, interpretada por Ivonne Attas, que foram os papéis de maior
popularidade nesta história.
Treze anos depois, em 1987,
esta mesma história voltaria às telinhas, mas com os protagonistas Catherine
Fulop, recém-finalista do Miss Venezuela da época, e Miguel Alcántara, com o
título Mi amada Beatriz, sob a adaptação de Benilde Ávila. Produzida pela RCTV,
também da Venezuela, tornou-se a porta para o lançamento de várias figuras
juvenis que logo após conquistaram papéis estelares, como Marlene Maseda,
Milena Santander, Adolfo Cubas e a Miss Mundo 1984, Astrid Carolina Herrera.
Com grande difusão no
exterior, Mi amada Beatriz foi bastante criticada porque a imprensa venezuelana
fazia constantes comparações com os atores originais. Inclusive, Fulop se negou
a dar entrevistas aos meios nacionais e internacionais. Enquanto que seu
co-protagonista, Miguel Alcántara, recebeu diversos elogios por sua atuação. El
hombre que yo amo, canção que identificava esta telenovela, na voz de Caridad
Canelón, também marcou época e colheu os mesmos triunfos que a telenovela.
A história retratava a vida de
Beatriz (Catherine Fulop), uma bela garota, muito alegre e trabalhadora, que
quando recém-nascida foi entregue por sua mãe, Maruja (Marisela Berti), ao
padre Amado Quintana (Carlos Márquez). A vida de Maruja estava em risco e para
não deixar sua filha desamparada, decidiu entregá-la ao sacerdote. Mesmo não
tendo morrido, ela nunca mais soube o paradeiro de sua filha, por sua vez,
Beatriz cresceu sob os cuidados do sacerdote.
Certo dia, quando Beatriz
ainda era adolescente, um grupo de rapazes delinquentes fazem com ela uma
brincadeira de mau gosto, assustam e a estrupam. Um deles, Arturo Arismendi
(Miguel Alcántara), estava disfarçado de Drácula. Beatriz consegue escapar do
ataque e, desesperada, chega à casa de uma boa mulher chamada Miguelina
(Rosario Prieto), que compadecida pela pobre garota, lhe permite morar em sua
casa e chega a ser como a mãe de Beatriz. Após o ocorrido, a jovem passa a ter
constantes pesadelos devido a esta terrível experiência e, sobretudo, não
consegue esquecer a espantosa cara do Drácula.
Arturo, profundamente
arrependido por sua má conduta no passado, volta a ver Beatriz, que nem imagina
que ele é o homem que lhe causou tanto dano, e acaba se apaixonando por ele.
Arturo, por sua vez, pensa em lhe contar toda a verdade, mas não pode porque
também se apaixonou e não deseja perdê-la.
Em 2008, surge Cuidado con el
ángel, a versão mexicana realizada pela Televisa. Adaptada por Carlos Romero e
produzida por Natalie Lartilleux, contou com as atuações da atriz e cantora
Maite Perroni, ex-RBD, e do modelo e ator cubano William Levy, conquistando o
gosto do público e tornando-se uma das telenovelas com maior nível de audiência
para o canal mexicano dos últimos tempos.
Sua história, que combinava
todos os elementos que agradam ao público, junto a um elenco de destacadas
figuras como Ana Patricia Rojo, Helena Rojo, Evita Muñoz, Ricardo Blume, Hector
Gómez, Arturo Carmona, René Striker, Rocío Banquells, Laura Zapata, Nailea
Norvin entre outros, foram os principais atrativos desta versão.
Apesar de os críticos
garantirem que Maite não transmitia originalidade com sua atuação nesta
história, Cuidado con el ángel obteve o mesmo sucesso que a original e grande
parte do êxito recaiu sobre William Levy, que, anos mais tarde, voltaria a
atuar ao lado de Maite em Triunfo del amor.
Em Cuidado con el ángel
notou-se uma versão agilíssima, onde cenas que duravam três capítulos se
condessavam em meia hora; a redução de subtramas juvenis e a suavização de
determinados temas devido ao horário familiar também foram observados. Em
troca, incluiu-se o tema paranormal de Mariana (Beatriz Aguirre), uma avó
fantasma que habitava a mansão San Román, cuja única utilidade era contar
histórias à filha do protagonista, Tininha (Sarai Meza), que em sua versão
mexicana chamou-se Mayita.
No Brasil, foi grande a
euforia dos fãs com a estreia de Cuidado com o anjo, seu título em português. Por
aqui, a estreia esteve marcada por uma enorme expectativa e divulgação através
das redes sociais, com temas que alcançaram os trending topics mundiais do
Twitter.
Em Cuidado com o anjo, quando
Malú (Maite Perroni) nasceu, sua mãe, acreditando estar à beira da morte, a
entregou para um sacerdote que a levou até um orfanato. Aos catorze anos, Malú
fugia e começava a vagar por todas as partes, ganhando a vida como podia. Os
anos passavam e um dia ela era atacada por um bêbado, trauma que desde então a
fazia sentir rancor pelos homens, além de ter se tornado a causa dos pesadelos
que a desesperavam.
Candelária (Evita Muñoz
“Chachita”), uma lavadeira, lhe dava abrigo e tornava-se uma mãe para Malú, que
trabalhava no que podia para ajudá-la. Depois de ser metida em uma confusão, a
jovem ia parar na delegacia, onde era jugada por seu próprio pai, sem ambos
saberem sua relação, e defendida por João Miguel (William Levy), um
psicanalista que ela nem imaginava que havia sido seu agressor.
A história de Cuidado com o
anjo, cheia de intrigas, desamores, inveja e ódio, fez grande sucesso também
nos Estados Unidos, onde alcançou grande aceitação por parte do público de
língua espanhola. No México, o melodrama teve nomeações aos Prêmios TVyNovelas
2009, como Novela do Ano, Melhor Diretor de Câmeras, Melhor Primeira Atriz e
Melhor Atriz Juvenil. E, graças ao apoio do público, Maite Perroni obteve seu
primeiro troféu como Melhor Atriz Juvenil e Helena Rojo conquistou o prêmio de
Melhor Primeira Atriz.
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