Mostrando postagens com marcador Rede Globo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Rede Globo. Mostrar todas as postagens

sábado, 17 de abril de 2010

As telenovelas latinas saem do armário

Certa manhã, um rapaz chamado Diego, trajando seu uniforme escolar, senta do lado de fora de sua casa, sem vontade de tomar o café-da-manhã com sua mãe. Ela também sai e pergunta o que está acontecendo. Diego lhe responde que, por ser gay, vai se expor ao ridículo na escola. Sua mãe, não somente lhe responde que ele não deve esconder sua opção sexual, como também diz que lutará para que ele seja ele mesmo. Em menos de três minutos, o filho, assumidamente gay, e sua mãe que sempre o apoiou, voltam à casa para tomarem o café.

No mesmo dia, as piores preocupações de Diego se tornam realidade: seus companheiros de escola o zombam. Ele se defende com valentia, o que faz com que outra aluna, Laura, se encoraje e confesse à classe que é lésbica. Com o passar do tempo, Diego até tem um romance com outro aluno, Santiago, cujo pai também aceita sua condição.

Estas histórias, de Niños ricos, pobres padres, não são as típicas narrativas das que saem do armário que temos visto nos meios latinos. Ainda que esta novela coloque seus jovens em um mundo de muito dinheiro e beleza, com uma história, às vezes, um tanto irreal, o tema “sair do armário” tem sido tratado de maneira mais profunda que no passado. Também, na teledramaturgia latina, cada vez mais, aparecem personagens gays: Más sabe el diablo, Victorinos (ambas da Telemundo) e As tontas não vão ao céu (Televisa), todas incluindo personagens gays ou transexuais importantes na história, ou mesmo o protagonista, como no caso de Más sabe el diablo.

As tramas brasileiras, no mercado internacional de TV, são as top de linhas, vendidas como inovadoras e que prezam pela qualidade. Tratam de temas polêmicos como clonagem humana (O clone), imigração (Terra nostra e América), exploração infantil (Prova de amor) e violência (Vidas opostas), mas quando o assunto é homossexualidade as novelas brasileiras são mais conservadoras.

Nessa área, os dramalhões latinos, mais precisamente os da Argentina, dão um banho nas telenovelas brasileiras. Recentemente, a Telefé, principal canal argentino, exibiu, pela trilionésima vez, a cena de um beijo gay, na novela Botineras, onde o personagem “El Flaco” Rivero (Christian Sancho) beija Lalo (Ezequiel Castaño). A cena foi ao ar sem chocar os telespectadores.

Beijos gays na TV argentina não é exclusividade da Telefé. O Canal 9 exibiu a novela El tiempo no para, com cenas de calientes beijos gays. Amassos, apertos, mão naquilo, aquilo na mão, e insinuações de sexo foram exibidas pela telenovela que ganhou os prêmios de Melhor novela, Melhor atriz protagonista, Melhor ator protagonista, três prêmios de Melhor participação especial, e conseguiu liderar por algumas vezes no Ibope.

Já nas “inovadoras” novelas brasileiras da Rede Globo, passou a ser uma constante o futuro de personagens ficarem subentendidos, como no recente caso da novela Caras e bocas, do autor Walcyr Carrasco. O personagem Cássio (Marco Pigossi), que durante a novela chegou a virar hétero, engatou um romance com Léa (Maria Zilda), porém com a entrada de Sid (Klebber Toledo), Cássio deixa Léa e termina a novela com ele. Porém, não foi exibida nenhuma cena que haja alguma demonstração de amor entre os personagens.

Outro caso foi da novela A favorita, de João Emanuel Carneiro, onde o personagem Orlandinho (Iran Malfitano) começa a novela como um homossexual e termina com a Céu (Déborah Secco), transformando-o em um ex-gay. Também em A favorita, o destino de duas personagens gays ficou subentendido: Catarina (Lilia Cabral) aceita o convite de Stela (Paula Burlamaqui) para experimentar novas experiências e viajam justamente para a Argentina. Isso sem citar o famoso caso do beijo gay de América, vetado pela Globo.

A proliferação de histórias como estas nos faz perguntar se a crescente aceitação da diversidade sexual está indo em direção aos produtores e escritores, ou, simplesmente, estes se deram conta que o público já está preparado para ver programas que reflitam esta diversidade que sempre existiu. Qualquer que seja a razão, é muito importante esta iniciativa, o que pode ajudar na aceitação própria do ser humano e incentivar o apoio dos pais e da sociedade.