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quarta-feira, 21 de abril de 2010

O feitiço mexicano

Se a Globo comemora ao anunciar que Da cor do pecado foi vendida para mais de 100 países, o que faria se tivesse produzido Maria do Bairro, trama mexicana comercializada para 180 países? Muitos podem xingar à vontade, dizer que não gostaram, mas o fato é que, sempre, as novelas “enlatadas”, aquelas que vêm prontas do exterior, invadiram a nossa praia e criaram seu público fiel. Na verdade, a Globo exporta para menos países que os mexicanos até porque seu preço de venda é, assim como no custo de produção original, bem mais alto. A diferença entre a qualidade de uma e de outra é evidente.

Mas acreditar que o público que assiste a essas novelas estreladas por atores com camadas extras de maquiagem é formado pelas classes mais baixas é bobagem. Um bom exemplo disso foi a colombiana Betty, a feia, da RedeTV!. De acordo com o Ibope, 40% do público da novela estava entre as classes A e B. A história da menina feia que se apaixonava por um bom partido, vista em mais de 100 países, fora suas adaptações locais, garantiu à rede brasileira, uma média de 6 pontos de audiência.

Quando ensaiava retomar seu núcleo de teledramaturgia, a Record também passou a investir nas enlatadas, exibindo Joana, a virgem, que rendeu média de 5 pontos de audiência, e com todo seu espaço comercial vendido, a trama abriu espaço para mais uma enlatada, Um amor de babá, porém, esta não emplacou.

Então a pergunta é: por que um país com uma tradição em novelas como o nosso se mantém enfeitiçado por essas produções?

Para o representante da distribuidora de novelas latinas Tepuy, Roberto Filippelli, é um erro nos chocarmos com a invasão latina, pois os folhetins brasileiros nada têm a ver com o folhetins mexicanos, colombianos e venezuelanos; são produtos diferentes e existe público para todos, diz ele.

Filippelli, que já foi diretor da Globo na Europa, explica que a diferença crucial está na narrativa e no número de tramas paralelas que existem nos dois tipos de novela: a trama brasileira tem 40 personagens e milhares de núcleos interligados por uma trama principal; se um núcleo não der certo, o autor aposta em outro. A trama mexicana é bem mais simples: há poucos núcleos e a história é focada nas personagens principais; também não há mudança drástica: a mocinha sempre será boa e a vilã, má. O que não quer dizer que a história seja ruim, pelo contrário, ela é de fácil entendimento e prende mais a atenção.

O fenômeno mexicano já criou frutos no SBT, que teve uma sólida parceria com a rede Televisa - a maior produtora de teledramaturgia do mundo. A emissora brasileira decidiu temperar o enlatado com algumas pinceladas verdes e amarelas e passou a refazer as tramas com atores nacionais. Amor e ódio, Marisol, Pícara sonhadora, A pequena travessa, Jamais te esquecerei, Canavial de paixões, Seus olhos, Esmeralda, Cristal, Os ricos também choram, Maria Esperança e Amigas e rivais circularam pelo horário nobre da rede.

Certa vez, Jacques Lagôa disse que a grande vantagem de se comprar uma obra pronta era que não se corria risco algum, já que as novelas já haviam sido testadas e era possível fazer um estudo mais detalhado da história. No ato da compra, a emissora já sabia quantos cenários iria utilizar, quantas locações iria fazer, o gasto que teria, e os atores já sabiam o começo, o meio e o fim de suas personagens; não se corria o risco de ter de mudar a linha da personagem ou do autor.

A Globo tentou fazer o caminho inverso e se deu mal. Para tentar entrar no mercado internacional, fez uma parceria com a rede Telemundo. Juntas, fizeram uma adaptação hispânica de Vale tudo, que foi exibida nos EUA. O que era sucesso garantido se transformou em mico. A trama adaptada acabou mais cedo que o previsto e foi batida no Ibope por O privilégio de amar, da Televisa.

O escritor Mauro Alencar, é fã confesso das tramas enlatadas: As histórias são bem contadas, têm temas universais e interessantes. É provado que o povo latino adora melodramas.

Alencar lembra, ainda, que as primeiras novelas nacionais nada mais eram do que cópias das mexicanas. Na década de 60, a cubana Gloria Magadan, que deu origem à teledramaturgia brasileira, era a encarregada de fazer as adaptações das tramas para a Rede Globo. O padrão usado pela Televisa é o mesmo usado por Gloria, que introduziu a telenovela no Brasil.

Para ele, não há como negar a qualidade das novelas globais, que são insuperáveis, mas na TV brasileira há espaço para todo mundo: Nossas novelas são de tirar o chapéu, mas podemos ficar com a mexicana, com a brasileira e com a brasileira-mexicana.

Comprar enlatados realmente dá lucro. Em 2003, enquanto um capítulo de novela da Globo consumia cerca de R$ 100 mil, um da mexicana Televisa não custava mais que R$ 60 mil e era vendido aqui por cerca de R$ 5 mil. Enquanto a trama das 8 da Globo ganhava cerca de R$ 170 mil por cada 30 segundos em seu intervalo comercial, uma mexicana do SBT não rendia mais do que R$ 45 mil, mas o lucro era certo e imediato.

Tamanha economia na produção das mexicanas é fácil de entender e somente para relembrarmos: Não há construção de cidades cenográficas, como aqui; os cenários são poucos, mal acabados e parecidos com os de peças teatrais (só com fachadas); quase não há cenas externas; quando a personagem viaja, um pôster ao fundo do estúdio indica onde ela estaria; os figurinos são reaproveitados e é normal ver o galã com o mesmo terno em 30 capítulos; o enquadramento das cenas também é sempre o mesmo: cheio de closes nos rostos das personagens para disfarçar a precariedade da produção e os atores não decoram os textos, usam ponto eletrônico.

Porém, por mais simples que sejam, as telenovelas sempre fizeram e sempre farão parte da televisão brasileira. E, mesmo com toda esta simplicidade os “dramalhões” mexicanos e latinos, em geral, têm muitos fãs, inclusive eu.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Os remakes de telenovelas latinas no SBT - Parte 4

CRISTAL (El privilegio de amar)

Foi produzida e exibida pelo SBT com 125 capítulos em 2006, baseada na versão mexicana El privilegio de amar, de 1998, que por sua vez já era um remake da venezuelana Cristal, de 1985, todas originais de Delia Fiallo. A versão brasileira foi traduzida por Henrique Zambelli, com a direção de Herval Rossano, Del Rangel, Jacques Lagôa, Luis Antônio Piá e Mayara Magri com a direção geral de teledramaturgia de Herval Rossano e David Grimberg.

Na primeira fase, em 1984, Vitória, empregada doméstica que trabalhava na casa de dona Luísa, tem uma noite de amor e engravida do filho de sua patroa, Ângelo de Jesus, jovem com vocação religiosa, prestes a ingressar ao seminário. Após ser humilhada por dona Luísa, Vitória é expulsa da casa e Luísa esconde de seu filho a existência da criança. Após dar à luz uma menina, Vitória vê-se obrigada a deixá-la na porta de uma mansão. A menina, porém, é entregue pelo casal da mansão às autoridades e encaminhada para um orfanato, onde é educada por freiras. Cristina, a filha de Vitória, torna-se uma linda jovem, com sólida formação moral.

Passam-se 22 anos e Cristina, interpretada por Bianca Castanho, trabalha num banco, mas sonha ser modelo. Vitória Ascânio, que havia se casado e se tornado uma renomada empresária de moda, não tarda em contratar Cristina para ser sua modelo, sem que as duas conheçam o laço familiar que as une.

Vitória, que nunca esqueceu a filha abandonada, procura Ângelo, hoje um respeitado padre, e finalmente ele toma conhecimento da filha e decide ajudar Vitória a buscá-la. Luísa percebe a reaproximação dos dois e descobre antes deles que Cristina é a filha perdida, porém conta ao filho toda a verdade em confissão, impedido-o de revelá-la a Vitória.

Cristina se envolve com João Pedro, o enteado de Vitória, e acaba engravidando, porém, antes de revelar este fato a João Pedro, é surpreendida por ele que lhe diz que se casará com Marión, sua noiva que voltou do exterior dizendo estar esperando um filho dele.

Decepcionada, Cristina esconde sua gravidez e Vitória, que descobre o envolvimento do enteado com a modelo, a demite da empresa.
Luísa diz a Cristina que quer a guarda de sua filha, revelando a ela que é sua avó, mãe de seu pai, portanto bisavó da menina que nascera, porém, não diz quem são os pais de Cristina. Com a filha recém-nascida e desempregada, Cristina, na mesma situação da mãe antes de seu nascimento, mas com o apoio do Padre Ângelo e de amigos, resistirá à todas as maldades e à ira de Vitória que, no fim, se arrepende de tudo o que fez e descobre que Cristina é sua filha. Esta se casa com João Pedro, e Marión volta para o exterior após descobrirem que ela não estava grávida, que era tudo um golpe por dinheiro.


MARIA ESPERANÇA (María Mercedes)

Produzida e exibida pelo SBT com 97 capítulos em 2007, foi adaptada por Yves Dumont, que se baseou no original Maria Mercedes, de Inés Rodena, escrito em 1992. Contou com a supervisão de texto de Therezinha Di Giácomo, a direção de Henrique Martins, Jacques Lagôa e Luís Antônio Piá, e com a direção geral de Henrique Martins.

Narrava a trajetória de Maria, interpretada por Bárbara Paz, uma garota doce e batalhadora que sustentava sozinha a família, vendendo doces e bilhetes de loteria pelas ruas. Abandonada pela mãe ainda quando criança, vivia com o pai, Ramiro, um alcoólatra, e os irmãos: Guilherme, jovem revoltado e problemático; Isabel, adolescente fútil e ambiciosa; e André, um adorável garoto de princípios e inocente, no fundo o único que valorizava a luta de Maria para manter a família unida.

Sua mãe havia deixado os filhos para tentar ter uma vida melhor nos Estados Unidos, porque odiava ser pobre, ter que aturar um marido bêbado que batia nela e ter que cuidar de quatro filhos pequenos.

Após conhecer Santiago Trajano Queiroz, um homem rico e amargurado que detesta os poucos parentes que tem, principalmente a sua interesseira tia Malvina, a vida de Maria passa por uma melhora.

Santiago, jovem ainda, sofre de um câncer incurável, mas vê sua vida renascer ao conhecer Maria, apaixonando-se por ela, que, sem saber que ele é rico, também apaixona-se. Eles se casam, e logo Maria engravida, porém depois que Santiago revela que casou-se com ela, além de amá-la, para lhe deixar todo o seu dinheiro já que está em estado terminal, ela se assusta e, decepcionada, perde o filho.

Enquanto Malvina é uma mulher ambiciosa, que faz de tudo para conquistar o que deseja, seu filho Eduardo é um rapaz esforçado, que guarda uma triste história – sua noiva foi morta ao sair da igreja no dia do casamento. Entre ele e Maria surgirá uma forte atração, já que Maria, agora, viúva está muito carente.

Maria se torna uma mulher elegante e poderosa, ajudando a todas as pessoas. Seu pai e irmãos passam a ter uma vida melhor, ela ajuda asilos, orfanatos e todo tipo de pessoa, o que desperta a inveja doentia de Malvina, que queria o dinheiro só para ela. Maria e Eduardo enfrentam uma série de problemas e pessoas ao longo desta história, porém conseguem namorar, e Maria engravida.

Certa vez, Maria, reencontra sua mãe, que se aproximará dela para arrancar todo seu dinheiro, juntando-se a Malvina para prejudicar a própria filha, cometendo crimes, mortes, roubos e sequestros. Maria luta muito pela sua felicidade ao lado de seu verdadeiro amor, Eduardo, e juntos com seu filho movem céus e terras para verem Malvina e a mãe de Maria presas por todos os crimes hediondos que cometeram por dinheiro.


AMIGAS E RIVAIS (Amigas y rivales)

Produzida e exibida pelo SBT com 140 capítulos em 2007, foi uma adaptação da mexicana Amigas y rivales, original de Alejandro Pholenz, escrita em 2001. A versão brasileira contou com a adaptação de Letícia Dornelles, a direção de Lucas Bueno e Annamaria Dias e a direção geral de Henrique Martins.

A trama girava em torno da amizade de quatro jovens muito distintas entre si. Laura, uma jovem batalhadora que após ganhar uma bolsa de estudos ingressava em uma faculdade particular, onde conhecia a mimada Helena, filha do todo-poderoso empresário Roberto Delaor.

Helena e Laura logo de cara não se entendem, e com a ajuda de Olívia, sua melhor amiga, Helena aprontam muitas com Laura até que se entendem e tornam-se amigas. Helena, esnobe e fútil, tratava Nicole, sua humilde e sonhadora empregada como lixo. Nicole sonhava em ir para São Paulo e lá tornar-se uma grande estrela.

Em meio a seus romances, seus problemas e suas aventuras, essas quatro amigas, Nicole, Helena, Olívia e Laura entenderam o real sentido da palavra amizade, e que esta não foi sempre um mar de rosas, já que, muitas vezes, para dar certo não adiantava elas serem somente amigas, elas tinham que ser amigas e rivais.