domingo, 12 de setembro de 2010

TV Brasil apresenta Batismo de sangue

A TV Brasil exibe neste domingo, 12 de setembro, às 23h00, o filme brasileiro Batismo de sangue, uma adaptação do livro homônimo do religioso e escritor mineiro Frei Betto, que recebeu o Prêmio Jabuti, principal prêmio literário do Brasil, de Melhor livro de memórias em 1982.

Dirigido pelo mineiro Helvécio Ratton, o filme, gravado em 2006, é baseado em fatos reais e conta, em 110 minutos, a história de Frei Tito e a participação de frades na luta clandestina contra a ditadura, no final dos anos 60, época em que os conventos dominicanos, na cidade de São Paulo, tornaram-se uma das mais fortes resistências à ditadura militar vigente no Brasil.

Movidos por ideais cristãos, os freis Tito (Caio Blat), Betto (Daniel de Oliveira), Oswaldo (Ângelo Antônio), Fernando (Léo Quintão) e Ivo (Odilon Esteves) decidem apoiar o grupo guerrilheiro Ação Libertadora Nacional, comandado na época por Carlos Marighella (Marku Ribas). O grupo dissocia-se após uma conversa entre Frei Diogo e seus frades, onde conclui-se que existe a necessidade de dispersão do grupo a partir de então.

Frei Ivo e Frei Fernando partem para o Rio de Janeiro, onde são surpreendidos e torturados por oficiais brasileiros que, acusando-os de traidores da Igreja e traidores da Pátria, perguntam por informações sobre o local de reunião do grupo para a posterior captura e execução de seu líder, Carlos Marighella.

Após sofrerem cruel tortura, os frades informam aos policiais o horário e o local de reunião do grupo e onde Marighella costuma receber recursos oriundos da Igreja. Marighella é então surpreendido e executado por policiais do DOPS paulista, sob o comando do delegado torturador Sérgio Paranhos Fleury (Cássio Gabus Mendes). Frei Betto, refugiado no interior do Rio Grande do Sul, é encontrado, preso, e une-se ao restante do grupo no presídio de Tiradentes, em São Paulo, em 1971.

Os frades são posteriormente julgados e sentenciados a quatro anos de reclusão em regime fechado. A única exceção é Frei Tito que é liberto por um processo de negociação para a libertação de um embaixador sequestrado pela Ação Libertadora Nacional. Assim, é enviado para o Chile como parte de um grupo de presos políticos trocados pelo embaixador suíço Giovani Bucher. Anos depois, exila-se na França, onde não conseguindo superar as sequelas psicológicas sofridas após ser preso e torturado, decide pôr fim ao seu martírio cometendo suicídio por enforcamento.

Ao escrever o livro que se transformou em filme, Frei Betto revive a saga do grupo de frades dominicanos na luta contra a ditadura militar. Ele teve a coragem e a ousadia de tocar em sua própria ferida e relatar um período de grande sofrimento, embora seja uma lição de fidelidade aos ideais de uma geração que apostava em um país melhor.

O filme tem muitos pontos que merecerem destaque. Um deles é a direção de Helvécio Ratton que viveu esse período da história e participou ativamente da luta contra a repressão, sendo inclusive obrigado a se exilar no Chile. Ele decidiu filmar Batismo de sangue com alto grau de realismo, para mostrar toda a intensidade dramática e física daqueles acontecimentos.

Diferentemente de outros filmes sobre o período, o diretor quis que as cenas de tortura não fossem apenas ilustrativas, mas sim que fizessem parte da estrutura dramática da história. As cenas são fortes, chocantes, incomodam e nos fazem refletir sobre a baixeza do ser humano, que pode chegar ao ponto de encher um semelhante de pancadas para obter informações que possam mudar o rumo da história.

A fotografia, a cargo de Lauro Escorel, é outro dos pontos positivos. O filme se inicia com cores fortes, que vão sumindo à medida que as sombras se impõem, chegando quase ao preto-e-branco no ápice do sofrimento dos frades, prevalecendo apenas o vermelho, simbolizando o sangue. Então, as cores voltam gradualmente à medida que a vida deles recobra a normalidade dentro das prisões.

A escolha do elenco também foi perfeita. O diretor queria que os intérpretes estivessem na mesma faixa etária na qual os frades se encontravam quando foram presos. Para isso convidou Caio Blat, Daniel de Oliveira, Léo Quintão e Odilon Esteves para os papéis dos freis Tito, Betto, Fernando e Ivo, respectivamente. Resolvida essa questão, faltava decidir quem viveria outros dois importantes personagens da trama: o delegado Fleury e o líder Marighella.

Por sugestão da atriz Patrícia Pillar, de quem é amigo, Ratton convidou Cássio Gabus Mendes para encarnar o “papa”, como Fleury era conhecido entre seus subordinados. E para o papel de Marighella, a surpreendente escolha recaiu sobre o músico mineiro Marku Ribas.

Resta ainda destacar a brilhante reconstituição de época a cargo de Adrian Cooper, Marjorie Gueller e Joana Porto. As cenas, originalmente ambientadas em São Paulo, foram transferidas para Belo Horizonte, onde a produção recriou a Alameda Casa Branca, na qual Marighella foi executado.

Os corredores e salas da USP, onde os frades estudavam, ganharam vida num prédio abandonado no qual funcionava a antiga Faculdade de Farmácia, e o DOPS foi recriado em estúdio na cidade de Sabará, próxima a Belo Horizonte. Todos os sobreviventes envolvidos na trama ficaram impressionados com a semelhança com os locais originais. A equipe só saiu de Minas Gerais para filmar a cena das prisões do frades no Rio de Janeiro e algumas externas na França, no convento no qual Tito cometeu o suicídio.

Com todos esses predicados, Batismo de sangue se tornou um filme obrigatório para aqueles que pretendem conhecer um pouco sobre este sombrio período de nossa história recente. É daqueles filmes que nos faz perguntar: Onde está nossa juventude? Onde estão nossos ideais já que vivemos uma democracia? Será que somente sob repressão acordamos e nos tornamos sujeitos da história?

Se vivemos hoje numa democracia, muito devemos a esses jovens idealistas que não tiveram medo de enfrentar seus opressores e lutar pela liberdade. Existem falhas no atual processo democrático, é evidente, mas que todos, principalmente as gerações mais jovens, tenham sempre em mente que a pior das democracias é preferível à melhor das ditaduras.
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