domingo, 13 de fevereiro de 2011

As telenovelas chilenas com toque brasileiro – Parte 1

Na disputa pelo mercado dos melodramas televisivos, o Brasil tem dado passos significantes no que diz respeito à exportação de telenovelas. A produção para o mercado interno é amplamente aceita pela maioria da população e chega a captar mais de 50% da audiência no horário nobre. Entretanto, não é somente em seu próprio país que as telenovelas brasileiras têm boa acolhida, em diversos outros como Nicarágua, Uruguai, Equador, Bolívia, Guatemala e Chile nossas produções se destacam e, inclusive, influenciam o modo de vida dessas pessoas.

Dentre esses países consumidores o que mais se destaca é o Chile, não apenas por ser um dos grandes compradores de telenovelas brasileiras enlatadas, mas também por ter produzido suas próprias versões de nossas histórias.

No âmbito da produção dramática televisiva, o Chile se encontra distante de ser um país reconhecido internacionalmente, diferentemente do que ocorre no Brasil, propriamente dito, no México, na Argentina, na Colômbia ou na Venezuela. As razões para este distanciamento são complexas e vão desde a carência de uma política decidida de comercialização por parte dos canais - que preferem explorar a audiência local, notavelmente fiel, mas pequena - até as características um tanto peculiares da produção.

Quando se observa o processo de implantação da televisão nos países do continente americano, se notam particularidades que se mantiveram com os anos. Alguns tomaram a dianteira e adotaram o modelo norte-americano de meios financiados pela publicidade, tal como México, Cuba, Venezuela, Brasil e Argentina, enquanto que outros tenderam a adotar o modelo europeu de serviço público, como foi o caso do Chile.

No caso de se deixar a televisão em mãos do setor privado corria-se o risco de que a mesma fosse usada pela oposição e não havia empresários convencidos de que se tratasse de um projeto tão rentável quanto o rádio. Decidiu-se, então, por entregar a televisão às universidades do Chile e Católica, com a intenção de que haveriam de conceder alguma orientação cultural.

Quando se iniciaram as transmissões regulares, os programas dramáticos de produção própria eram muitos, descontínuos e breves. O teleteatro era um tipo de programação que custava ter seu intervalo vendido aos anunciantes, os quais preferiam as séries de ação norte-americanas. Entretanto, as emissoras chilenas não se beneficiavam de grande qualidade técnica, ao nível dos modelos europeus da BBC, RAI ou ORTF. As emissões eram ao vivo, os cenários paupérrimos, se escutava a voz do diretor durante a ação dramática e membros da equipe técnica apareciam no enquadramento da câmera, que não se centrava em apenas um foco.

Na programação dos anos 60 e começos dos 70, as poucas telenovelas que se exibiam eram importadas da Argentina e do México e eram apresentadas no período vespertino, para o desfrute do público feminino. Já as séries norte-americanas de ação eram programadas no horário noturno, especialmente para a plateia masculina.

Nos inícios dos anos 70, sob o regime socialista de Salvador Allende, produziram-se no país minisséries históricas de certa extensão – mais de 30 capítulos - escritas por Jorge Inostrosa, que havia alcançado fama graças ao radioteatro e aos romances históricos.

A partir de setembro de 1973, a produção dramática da televisão chilena ficou suspensa, como se tivesse que apagar da memória dos telespectadores os personagens controversos da história nacional que haviam ocupado a telinha. Quando a ficção nacional regressa, vários anos depois, com projetos anacrônicos, a adaptação de roteiros importados e radionovelas de Arturo Moya Grau tornam-se os paradigmas da época.

Os diretores dos canais decidiram que convinha deixar de lado os traços da dramaturgia nacional, para se evitar a presença de autores com antecedentes de esquerda e, desse modo, tranquilizaram a ditadura, que estava com medo de que pudesse haver alguma oposição ideológica não desejada. Vendo que os roteiros brasileiros já haviam superado previamente a ditadura do regime em nosso país, supôs-se que, da mesma forma, chegariam por lá sem qualquer nocividade. A adaptação de roteiros importados chegou a se tornar um dos recursos fundamentais para o funcionamento dos canais. Houve anos em que três das quatro telenovelas produzidas tinham essa origem.

A iniciativa de se adquirir libretos do arquivo da Rede Globo é atribuída ao diretor brasileiro Herval Rosanno, que em várias oportunidades trabalhou no Chile. Cada vez que se perguntava aos responsáveis pelas áreas dramáticas da TVN e do Canal 13 por que é que compravam dezenas de libretos de Cassiano Gabus Mendes, de Janete Clair, Lauro César Muniz, Braulio Pedroso, Mário Prata, Ivani Ribeiro; Benedito Ruy Barbosa, Dias Gomes, Gilberto Braga e Silvio de Abreu, para entregá-los a adaptadores que raras vezes tinham alguma experiência literária, visto que eram locutores, jornalistas, produtores, etc., a resposta era sempre a mesma: não haviam roteiristas no Chile.
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Um comentário:

Luis disse...

Olha, acho que tem um pequeno equivoco ai, a Globo disse q nunca vendeu tanta novela, mas só passam 17 na américa inteira, enquanto a Televisa trasmite 100, Telemundo 45, Tv Caracol 25 e Rcn 20, aqui achamos que ela domina, mas está longe disso, atualente no Chile nenhuma novela brasileira é trasmitida, ótimo post.