domingo, 1 de agosto de 2010

TV Brasil apresenta A oitava cor do arco-íris

A TV Brasil exibe neste domingo, 1° de agosto, o filme brasileiro A oitava cor do arco-íris, de Amauri Tangará. O longa-metragem tem grande importância para o cinema de Mato Grosso, pois trata-se do primeiro filme do estado do centro-oeste brasileiro. Seus produtores, perseverantes, começaram a rodá-lo em 2002, com 150 mil reais. A verba não foi suficiente e as filmagens foram paralisadas. Só em 2003, com o apoio da lei de incentivo à cultura, os trabalhos puderam ser concluídos. A finalização, sob as asas do Ministério da Cultura, só aconteceu em janeiro de 2004.

A história de A oitava cor do arco-íris, contada em 80 minutos, inicia-se na pequena Vila de Nossa Senhora da Guia, no interior do Mato Grosso do Sul, a 30 quilômetros de Cuiabá. Lá vive Joãozinho (Diego Borges), um menino criado pela avó Didinha depois que seu pai desapareceu num garimpo, na região de Poconé, e sua mãe virou prostituta, em um bordel de Várzea Grande. Adoentada e sem poder andar, a velha sustenta o neto com a mísera aposentadoria que recebe e o leite de uma cabrita de estimação, Mocinha.

Uma noite, Joãozinho desperta com as orações de sua avó pedindo a Deus que a leve, pois não suporta mais as dores que sente e a falta de condições para comprar remédios que a aliviem seu sofrimento. Ao ouvir isso, o menino toma uma importante decisão: vender Mocinha, o único animal de estimação que possui e, com o dinheiro, comprar os remédios que sua avó necessita.

Clandestinamente ele leva a cabrita para a capital, sem conhecer nada nem ninguém. Ali descobre o lado duro de uma cidade grande, que contrasta com sua ingenuidade de menino nascido e criado no bucolismo saudável de uma pequena vila. Joãozinho, em suas aventuras urbanas na capital mato-grossense, lida com os mais variados tipos de situações e de pessoas: uns lhe são benevolentes, alguns o desprezam e outros lhe fazem crueldades.

Ninguém quer Mocinha e Joãozinho se desespera, tendo visões com a avó doente. Ele continua sua saga comercial até que uma simpática família decide ficar com o animal. O comprador prende Mocinha em seu quintal e sai para passear com a família. Neste momento Joãozinho descobre o verdadeiro valor de Mocinha: incalculável.

A história tem bom coração e seus criadores aproveitaram o tema para explorar a arquitetura de Cuiabá, seus pontos turísticos e mostrar como o povo pode ser acolhedor. No entanto, a ingenuidade de menino não é páreo para o lado amargo da metrópole, que prova ser um desafio muito maior do que ele poderia enfrentar sozinho.

A oitava cor do arco-íris é um filme melodramático em alguns momentos, como na linha musical condescendente que sempre acompanha o garoto Joãozinho. O filme é bem realizado e esquemático, utiliza uma trilha sonora mais caipira para os cenários rurais e o rock and roll de guitarras distorcidas para o ambiente urbano. A interpretação dos atores, todos desconhecidos, é meio dura, meio decorada, meio teatral, porém, simpática.

Segundo Tangará, Nossa Senhora da Guia foi escolhida como parte do cenário para caracterizar bem o sentimento de solidariedade, típico do brasileiro. Hoje muito empobrecida, a vila foi a única via de ligação entre a capital e o norte do Estado de Mato Grosso. Atualmente, seu patrimônio histórico é representado por meia dúzias de casarões estilo colonial, uma capela centenária e uma ponte de ferro, fabricada na Inglaterra e montada, na década de 1920, sobre rio Bandeira, um dos afluentes do Cuiabá. Recuperada há pouco mais de 10 anos, essa ponte é a sua única atração turística. O que há de mais encantador por lá é sua gente pacata e simples, mas que preserva os ritmos e o linguajar dos tempos antigos.

O interessante é que a realidade da vida e do mundo é representada da maneira mais abrangente, por isso, mais realista: inclui a bondade, a maldade e a indiferença. Amauri Tangará, que também assina o roteiro, revela-se bem maduro nessa visão, o que põe no chinelo filmes e obras literárias que defendem a visão mais pessimista da realidade, mostrando apenas os seus aspectos mais negativos, e ainda pretendem ser realistas.

Para muitas cabeças modernas e sofisticadas, o filme pode ser algo detestável ou simplesmente desprezível, não-concorrente para que se dê valor sério a uma obra. Mas as inteligências desarmadas e as sensibilidades sem malícia saberão apreciar a obra de Tangará.

A produção tem o seu valor: não apresenta a cor local moderna, com ênfase contundente na miséria e na violência, mas embeleza-se da cor local tradicional. Apesar dos seus defeitos, se cada estado produzisse um longa por ano, o cinema brasileiro atingiria outro patamar.
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