Gravado em 2004, com roteiro de Fernando Eimbcke e Paula Marcovitch, Temporada de patos relata, em 85 minutos, o dia de Flama (Daniel Miranda) e Moko (Diego Cataño Elizondo), que têm 14 anos de idade e são amigos desde pequenos. Os dois acabam de ficar sozinhos em casa e têm tudo o que é necessário para uma tarde de marasmo: um videogame Xbox, dinheiro para a pizza meia champignon, meia pepperoni, um armário abastecido de junk food, revistas pornográficas, muita coca-cola e pizza entregue em casa. Para o desespero dos garotos, acaba a luz do bairro e com isso a diversão eletrônica.
À história é acrescentada Rita (Danny Perea), uma vizinha adolescente que toca a campainha dizendo precisar do forno por 15 minutinhos para assar um bolo. Hora, também, de antecipar a pizza. Ulises (Enrique Arreola), o entregador, chega 11 segundos atrasado e os moleques se recusam a pagar, afinal, se passar de 30 minutos a entrega não é cobrada. O entregador se revolta, pois subiu 8 andares de escada, e decide que só sairá dali com o pagamento.
Os quatro, presos numa situação absurda, dentro do apartamento, tratam de desenvolver suas respectivas rotinas, mas terminam travando relações pessoais ao expressar seus conflitos internos: Flama deve decidir com qual de seus pais viverá depois do divórcio, Moko teme perder seu amigo, Flama, por quem acredita ter sentimentos mais profundos, Rita, ignorada por sua família, até mesmo no dia de seu aniversário e Ulises, o entregador que mantém um trabalho que lhe parece frustrante, mas que tem que exercer para poder ajudar sua família.
A estética fotográfica do filme é um aspecto muito bem trabalhado e explorado, assim como a trilha sonora, com suas perfeitas sincronias: a sequência em que o entregador de pizza está no caminho do conjunto habitacional, onde se encontram os garotos, é um ótimo exemplo de harmonia entre trilha sonora, sonoplastia e fotografia.
Temporada de patos é um filme sobre aquilo que se pode chamar de criação de laços afetivos. Todas aquelas personagens têm alguma perda a lamentar, seja o divórcio dos pais ou o alheamento da família, e esta tarde de convivência funciona como descoberta de uma compensação. O centro do filme é esse e tem o seu apogeu na verdadeira experiência de comunhão que se segue à ingestão dos bolinhos de marijuana feitos pela garota.
Através de uma fotografia em preto e branco extremamente suave, enquadramentos que metricamente provocam dificuldades para apontar erros, planos longos, e seus silêncios intermináveis, o filme atende perfeitamente a sua proposta de tratar de um tema estritamente banal, um dia na vida de dois garotos da classe média mexicana que não curiosamente poderiam ser de várias outras nacionalidades.
O título do filme faz referência a um quadro pendurado na sala do apartamento e o qual mostra alguns patos voando sobre um lago. Ao vê-lo, o entregador de pizzas conta aos garotos que os patos voam em formato de V afim de apoiarem-se mutuamente, cortando o ar e revezando suas posições para evitar o cansaço.
Uma outra opção é o fato de que no México existe a frase popular “Hacerse pato”, “Se fazer de pato”, a qual faz referência a uma pessoa desobrigada ou isenta de ocupações, sem proveito nenhum, em poucas palavras, uma pessoa ociosa.
Temporada de Patos recebeu onze Prêmios Ariel da Academia de Cinema do México, incluindo Melhor Obra Prima de Ficção, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original e Melhor Fotografia; Prêmio Fripesci e Prêmios de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro, Melhor Som, Melhor Ator e Melhor Atriz no Festival de Cinema Mexicano de Guadalajara; Prêmio Especial do Juri no Festival de Cinema de Paris; Prêmio de Melhor Atriz no MTV México Movie Awards; e Grande Prêmio do Juri no Festival de Cinema de Los Angeles. O sucesso rendeu ao filme o sonhado contrato de distribuição, que garantiu a sua exibição nos cinemas mexicanos.
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