“A rigor, a palavra Vanguarda faz referência ao batalhão militar que precede as tropas em ataque durante uma batalha, e daí deduz-se que vanguarda é aquilo que “está à frente”. Desta forma, tudo aquilo que está à frente de algo ou à frente do seu tempo em uma atitude poderia se intitular como pertencente a uma vanguarda.”
Ao longo de mais de 50 anos de produção, a telenovela mexicana obteve vários êxitos, imperando o melodrama ou a grande história de amor, o clássico conto da Cinderela, porém, em sua história, vários produtores apostaram em tramas com temáticas diferentes e em outras maneiras de dirigir ou contar uma história.
A telenovela de vanguarda, ou “vanguardista”, é aquela que rompe com o esquema original das telenovelas e se atreve, juntos com seus protagonistas, a uma visão distinta de se relatar uma ficção. Estas são as dez telenovelas de vanguarda de todos os tempos:
DOÑA MACABRA (1963)
Em 1963, Ernesto Alonso reuniu três nomes de peso do teatro nacional: as espanholas Amparo Rivelles e Ofelia Guilmáin, e a cubana Carmen Montejo, para interpretar os papéis principais de uma telenovela escrita especialmente para elas pelo dramaturgo Hugo Argüelles, Doña Macabra. Surgia, então, um gênero nunca explorado até então pela telenovela: o humor negro. A história foi um êxito absoluto: duas anciãs, meio bruxas, são assediadas por um ambicioso parente político, convencido de que elas escondiam um tesouro em sua casa. As três atrizes estiveram radiantes em seus papéis, acompanhadas por dois grandes atores: Enrique Rambal e Narciso Busquets, com a ágil direção do próprio Alonso. Com esta telenovela, começou-se a gravação em locações: se gravava em externas para dar mais vida à produção.
MAS ALLÁ DE LA MUERTE (1969)
Ao realizar Más allá de la muerte, sua primeira telenovela a cores, com Julissa, Carlos Bracho e Emily Cranz, o próprio Ernesto Alonso como ator e produtor, dirigidos por Raúl Araiza, conseguiu despertar a atenção do público com um novo gênero de telenovela: o terror sobrenatural; os créditos de apresentação eram sobre um quadro com uma pintura a óleo de Julissa vestida ao estilo do final do século passado. A trama atraiu um vasto público masculino, que acompanhou às donas-de-casa. A personagem de Julissa era uma jovem que morria no dia de seu casamento e reencarnava muito anos depois em uma cigana que se via envolvida com pessoas da mesma família com quem se relacionava na outra vida. Apesar do êxito e das rupturas do gênero, a trama não teve uma segunda parte.
DESPREZO “Rina” (1977)
Esta telenovela conta a história de Rina Galeana (Ofelia Medina), uma jovem pobre, corcunda, que vende flores para manter sua pai bêbado e seus irmãos. Sua mãe, Maria Júlia (Alicia Rodríguez), os abandonou quando eram pequenos. Um dia, enquanto vendia flores, um velho homem, inválido, zangado, mas muito rico, Leopoldo (Carlos Ancira), a chama por uma janela e a manipula para que se case com ele. Este senhor não suporta a ideia de que, ao falecer, sua odiosa cunhada Rafaela (María Rubio), o filho desta, Carlos Augusto Miranda y Castro (Enrique Alvarez Félix), e a irmã de sua cunhada, Dionísia (Rosa María Moreno), fiquem com sua herança. Rina aceita se casar pelos problemas econômicos de sua família e pouco depois do casamento, o homem morre, deixando Rina, sua esposa, como sua herdeira universal. Rafaela não aceita perder a herança de seu cunhado e traça um plano utilizando seu débil filho, que vive amargurado após ter perdido sua noiva ao pé do altar: faz com que namore Rina e se case com ela para pode ficar com a fortuna. Rina se apaixona perdidamente por Carlos Augusto, que a despreza e humilha. Eles se casam, mas nos planos de Rafaela e seu filho o casamento não se pode consumar. Certa noite, Rina embebeda Carlos Augusto, e consuma seu casamento. Ela fica grávida e Rafaela trata de enlouquecê-la para ficar com a grana e com seu neto. No final, a protagonista, que começou corcunda, foi operada e ficou lindíssima. Um clássico da telenovela no México, que posteriormente ganhou vários remakes e até versão brasileira: Maria Esperança.
ESTRANHO PODER “El maleficio” (1983)
Esta telenovela é, sem dúvida, o grande clássico de terror no México. Ernesto Alonso se colocou no auge do sucesso nos anos oitenta graças a este melodrama com tempero diabólico. Estranho poder usou, pela primeira vez, efeitos especiais e tocou temas pouco explorados na televisão mexicana. Esta trama alcançou altos níveis de audiência e grandes vendas internacionais. O Senhor Telenovela já havia explorado esse gênero em Leyendas de México, mas este projeto veio para coroar seus esforços por uma telenovela vanguardista, e conseguiu. Estranho poder ganhou seu espaço e hoje está entre os grandes clássicos da televisão latina.
AMBIÇÃO “Cuna de lobos” (1985)
Ambição, a obra prima do produtor Carlos Tellez, tornou-se um projeto precoce para seu tempo, a grande assassina, Catarina Creel, ganhou a atenção de um país inteiro, que viu, capítulo por capítulo suas grandes maldades. O escritor Carlos Olmos, que vinha do teatro, planejou cada personagem desta bem-sucedida telenovela. Nunca na história da televisão havia se transmitido um projeto deste porte, distanciado totalmente da Cinderela e dos estereótipos batidos. Até hoje, seu elenco obtém destaque Diana Bracho, Gonzalo Vega, Alejandro Camacho, Rebeca Jones e, sem dúvida, a mais ovacionada, María Rubio, que interpretou a mais temível vilã de todos os tempos. Ambição é irrepetível e seu êxito chegou a níveis internacionais.
QUINZE ANOS “Quinceañera” (1987)
Uma das telenovelas juvenis mais bem sucedidas da história superou as expectativas. Carla Estrada produziu uma história que nada tinha de rosa; suas protagonistas, Adela Noriega e Thalía, tinham pouca idade e viviam em meio a tramas sobre drogas, sexo e libertinagem juvenil. Não foi insossa, pelo contrário, o quadro de atores esteve à altura de uma das melhores produções juvenis de todos os tempos. A grande equipe composta por Estrada, Pedro Damián e René Muñoz conseguiu colocar a audiência nas nuvens. Adela Noriega soube comover como Marilu e estabeleceu de uma vez por todas sua presença na televisão mexicana.
EL EXTRAÑO RETORNO DE DIANA SALAZAR (1988)
Carlos Tellez buscou uma história à altura de Ambição e convenceu uma das estrelas mais bem-sucedidas da telinha: Lucía Méndez. El extraño retorno de Diana Salazar explorou o tema da reencarnação e, em sua estreia, obteve críticas divididas, mas depois conseguiu atrair milhões de espectadores. Tellez soube se tornar um produtor vanguardista e esteve disposto a explorar a ficção além do melodrama convencional, por sua parte, Lucía também rompeu com a típica protagonista pobre que se apaixona pelo jovem rico. Seu elenco foi insuperável: Jorge Martínez, Alejandro Camacho, Rafael Baledon, Patricia Reyes Spíndola e a grande vilã Alma Muriel. Sem dúvida uma das grandes telenovelas de finais dos oitenta.
TRAIÇÃO “Nada personal” (1996)
Quando parecia que tudo havia se esgotado na televisão mexicana, Epigmenio Ibarra chegou à tela da TV Azteca, em 1996, com a telenovela Traição, juntando um elenco de primeira, integrado por Ana Colchero, Lupita Ferrer, Rogelio Guerra, Demian Bichir e José Ángel Llamas. Jamais uma telenovela com tempero político teve tanto êxito e chamou tanto à atenção como esta. Seu capítulo de estreia quebrou recordes de audiência na TV Azteca e se mostrou outra maneira de se fazer televisão. A telenovela foi pioneira em contar temas tabus da política mexicana, ao falar uma linguagem sem censura e com uma direção impecável por parte de Antonio Serrano. Traição ganhou seu lugar como a melhor telenovela política feita no México.
LAÇOS DE AMOR “Lazos de amor” (1995)
Antes, Maricruz Olivier em Las gemelas, Jaqueline Andere em Sandra y Paulina, e Angélica María em El hogar que yo robé, entre outras, já haviam sido vistas em papéis duplos, porém Lucero deu uma cartada definitiva em sua carreira ao interpretar três irmãs gêmeas separadas pela adversidade. Laços de amor teve momentos certamente inverossímeis, mas sem sombra de dúvidas aumentaram o êxito de Lucero e comprovaram a capacidade de Carla como produtora de melodramas que vão mais além da típica historinha de amor impossível. O final é um dos mais difíceis de se esquecer.
OLHAR DE MULHER “Mirada de mujer” (1998)
Uma família mexicana com problemáticas típicas, mas, desta vez, a protagonista era uma mulher com mais de 50 anos. Angelica Aragón comove como uma mãe que decide se dar a oportunidade de voltar a se apaixonar. Epigmenio Ibarra produziu uma de suas melhores telenovelas, senão a melhor, com uma equipe insuperável: Bernardo Romero escrevendo, Antonio Serrano dirigindo e o mesmo Ibarra produzindo. Jamais uma telenovela foi contada como Olhar de mulher, que também contou com um grande elenco: Fernando Luján, Barbara Mori, Plutarco Haza, Margarita Gralia e Ari Telch.
Um comentário:
Bom resgate da história das telenovelas estrangeiras exibidas no Brasil. Dessas, assisti "Desprezo" quando criança. Uma boa novela, dramalhão bem denso que me dá saudades. Pena que o SBT não coloque essas informações ao seu público. Até mandei uma dica para eles sobre isso.
Postar um comentário