Gravado em 2001, Taxi para 3 foi escrito, dirigido e produzido por Orlando Lübbert e conta, em 90 minutos, a história de Ulises Morales (Alejandro Trejo), que está numa encruzilhada. Uma dupla de assaltantes, Chavelo (Daniel Muñoz) e Coto (Fernando Gómez-Rovira), embarca em seu destrambelhado táxi e lhe faz uma oferta: Volante ou maleta?, fazendo com que Ulisses escolha entre ser colocado no porta-malas de seu táxi ou conduzir o mesmo.
Ulisses tem tempo só de pensar na mulher, Nelly (Elsa Poblete), e nos filhos, além, é claro, nas prestações do táxi que ainda faltam pagar. Com a faca no pescoço, não tem dúvidas, escolhe o volante. A opção do taxista o transforma, em um instante, de assaltado em assaltante. Assim, começam as correrias do trio pelas ruas da grande Santiago. Mal sabia ele no que estava se metendo e, pior, ainda acabaria gostando, ainda mais quando os assaltantes dividem com ele o lucro dos roubos.
Passando por vários assaltos frustados e alguns bem-sucedidos, o que antes parecia imoral e incorreto para Ulisses, acaba tornando-se algo normal. Os assaltantes passam a se refugiar na casa do taxista e a entrar na intimidade da família, inclusive na de Javiera (Denitze Lecaros), a filha do taxista. Ulisses, rapidamente terá que decidir entre os benefícios e os riscos que este novo estilo de vida tem lhe trazido.
Ulisses é o personagem principal da história, o taxista que representa a difícil situação em que se encontram os chilenos, devido aos problemas econômicos, sociais e familiares aos quais estão expostos. Ele era de família, responsável, e se via profundamente angustiado por sua difícil situação financeira, decidindo, então, por tonar-se assaltante para conseguir dinheiro. O diretor do filme, Orlando Lübbert, escolheu o nome de Ulisses, pensando justamente em um homem que questionasse sua moralidade, daí resultou o sobrenome Morales.
Coto é o personagem que representa a falta de oportunidades e o desamparo que sofrem muitos chilenos, o que o leva à uma vida marginalizada, associada à delinquência por falta de recursos e educação, e, o mais importante, de um lar. Ele era uma boa pessoa, mas não tinha chance alguma na vida, era um analfabeto e, assim, não podia chegar a lugar algum, mesmo com o grande desejo de estudar jornalismo e progredir na vida.
Chavelo é o personagem que representa a classe mais baixa da sociedade chilena, aquela que tem sido marginalizada por não ter educação e cultura. Ele era um cara inteligente, tinha boas relações pessoais e sabia manter o controle da situação.
Nelly é a personagem que representa a mulher esforçada do Chile, uma dona-de-casa e mãe de três filhos que foi enganada por seu marido, que lhe foi infiel durante algum tempo, sem que ela nunca se desse conta. A princípio, pouco sabia que seu marido estava envolvido em roubos.
Javiera é a filha de Ulisses, a típica adolescente chilena, com os mesmos problemas de toda mulher. Vive um pequeno romance com Coto, romance este que a seu pai não agrada muito, já que este não suporta a ideia de que sua filha se apaixone por um analfabeto e ladrão.
Taxi para 3 nos aproxima da marginalidade que existe em Santiago, a qual tão pouco conhecemos. Não é um filme a mais, mas sim uma radiografia do que muitos têm que viver diariamente, de pessoas que transitam entre o limite do correto e do incorreto, da marginalidade e da delinquência. As situações vividas na história não são nada humorísticas, pelo contrário, muitas são dramáticas, mas pelo tratamento que o diretor as deu, assim como a interpretação que realizaram os atores, conseguem traspassar a barreira do drama e arrancam uma risada.
O filme possui uma temática interessante, local, mas, ao mesmo tempo, universal, onde todos podemos tomar este táxi e irmos por um caminho que nem ao menos suspeitamos, temos somente que escolher.
A produção de Lübbert foi vencedora do prêmio de Melhor filme no Festival de San Sebastián, na Espanha, e de três prêmios no Festival Internacional de Havana, em Cuba, além de indicação ao Melhor filme estrangeiro, nos prêmios Goya. No Brasil, o filme ganhou o prêmio de Melhor ator (Alejandro Trejo), na Mostra Latina no Festival de Gramado.
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