segunda-feira, 26 de abril de 2010

Os principais estilos da telenovela latino-americana


Apesar de cada vez mais surgirem produtos padronizados, homogeneizados pela circulação dos formatos, ou remakes de remakes, os títulos ainda conservam marcas de estilos próprios, como modos culturais que ainda são percebidos. Abaixo segue três modelos consolidados de novelas nos países de maior destaque na teledramaturgia: México, Brasil e Colômbia.


O MODELO MEXICANO

É o modelo tradicional, o melodrama clássico; tem estéticas e temáticas fortemente apoiadas no cinema e na rádio dos anos 30 a 50. Em suas novelas, a moral católica tem um peso determinante, e em suas histórias de amor somente se alcança a redenção através do sofrimento. As personagens recorrem uma Via-sacra, um calvário, para depois conseguirem a glória.

A novela forma parte de um plano normativo. Enunciam uma rigorosa defesa da família tal como se percebia nos séculos 19 e começos do século 20 (antes dos anos 50); sempre existe um respeito aos valores morais estabelecidos.

As histórias têm um alto nível de redundância e de obviedade, que podem resultar tanto cômicas como comoventes; os segredos são conservados até o ponto de virem à tona; as maldades se complicam, se entrecruzam e vão gerando pouco a pouco uma teia de aranha, que, também, pouco a pouco vai se desfazendo devido ao manejo dosado.

Apesar do relato tratar sobre uma paixão, quase não há lugar para o erotismo. As personagens sensuais são malvadas; a sensualidade é castigada, é vista como um vício, algo que deve ser controlado e penalizado. Sempre está relacionada com alguma atitude ambiciosa, interessada.

O relato é constituído por personagens padronizadas, caracterizadas por um traço comum, não somente pelo discurso, mas também pela maquiagem e vestuário. São indispensáveis: a mãe; a malvada; a inocente; o ambicioso; o jovem pobre, mas honesto etc., que expressam uma única motivação e respondem à essência que os caracteriza.


O MODELO BRASILEIRO

Moderno, ágil e colorido. Desde a própria apresentação é forte o cuidado com o visual e o ritmo. Expressa uma estética de classes médias.

É um modelo permissivo no plano moral; não há condenação à sexualidade explícita, são permitidos casais onde a mulher é a mais velha, ou casos onde a mãe é amante de quem no futuro será seu genro. Aparecem de maneira natural, mas nem tanto, gays ou lésbicas. O sexo é apreciado; o corpo é exibido sem temores; a vitalidade se comunica por todos os poros. O componente erótico está presente na cena, na composição das imagens e nas personagens.

É caracterizado por uma notável elaboração estética, que é visível nas tonalidades, na iluminação e na musicalização. Com o desenvolvimento tecnológico e a utilização de efeitos, se ampliou as possibilidades de se narrar histórias épicas, de multidões.

Raramente se fazem remakes de um título, contam-se histórias novas. A temática melodramática se mantém, mas sem a quota de sofrimento expressado de maneira exagerada. Existe sofrimento, mas sem a característica absoluta que se dá no modelo mexicano. As personagens não expressam suas emoções da mesma maneira que no modelo mexicano, o fazem de maneira mais natural e menos acentuada.

Estabelecendo uma comparação entre o modelo mexicano e o brasileiro, mas sem a intenção de privilegiar um ou outro, pode-se observar que os temas se enraízam nas tradições culturais de cada país. Os dois modelos surgem de diferentes escolas de artes cênicas. O modelo brasileiro se implantou com o teatro dos anos 60, no qual prevalecia a atuação natural, realista, enquanto que o modelo mexicano, como vimos, se alimenta da forte tradição melodramática do cinema dos anos 30 e 50, a qual se remete constantemente.

O protagonismo não está unicamente num casal, mas sim em todas as personagens, que também têm uma história. Há vários núcleos narrativos que se desenvolvem em âmbitos definidos e que têm personagens e conflitos delineados; às vezes essas histórias se desenvolvem de forma paralela à principal.

Mesmo havendo personagens padronizadas, estes não se apresentam de maneira tão evidente, como no caso mexicano. Nas telenovelas brasileiras tende-se ao individual, ao se constituir um caráter, ao se desenvolver uma personalidade. As personagens crescem, amadurecem, mudam, evoluem, escolhem, dialogam e debatem entre si; têm muitos pontos de vista diferentes e divergentes.

No Brasil, a novela forma opinião e impõe uma agenda. O que acontece na novela se discute na própria televisão, na rádio, nos jornais ou mesmo na rua. Tudo o que acontece na novela se discute, não somente a história de amor. Devido à sua relevância social, tomaram-na como veículo apto para a informação sobre saúde e cidadania, por exemplo, de onde também surge o merchandising comercial.


O MODELO COLOMBIANO

Combina elementos modernos com os tradicionais; explora universos urbanos, provinciais e rurais; âmbitos trabalhistas, domésticos e profissionais. Destaca os mundos da província, da vida nos povoados distantes dos centros urbanos e de suas personagens.

A nível audiovisual é muito importante a combinação entre uma musicalização forte, as cores e a textura na tela. A divisão entre o bem e o mal que reclama o melodrama se mantém, mas talvez o mais atrativo seja a apresentação de personagens com pequenos traços identificáveis.

Aparecem traços de maneira minuciosa, combinando o vestuário, a fala, o tipo físico e os tics, onde existe uma articulação com humor e ironia, e de onde se sobressai a presença de personagens caricaturadas. A sensualidade e o humor são sinais característicos; tem uma energia abundante, muita astúcia e um ritmo contagioso.

A novela colombiana se atreveu a várias coisas, até mesmo em colocar em papel de galã um personagem que sofria de impotência, zombando dos estereótipos mais comuns, que geralmente julgam o galã um Don Juan, até que se apaixone pela heroína.

Outra ousadia foi a incorporação da bebida não como vício – como ocorre no caso mexicano – mas como costume, como cultura.

Outra audácia a mais na novela colombiana tem importância equiparável: a de colocar uma protagonista feia, e que se mantinha feia em 80% da história. Seu embelezamento final não se devia a cirurgias, mas a um processo interior onde encontrava sua própria segurança. Da mesma maneira, fez com que um galã sedutor se apaixonasse dela, mesmo sendo feia.

Desses três modelos, podemos notar que a Televisa parece segura no qual está. O modelo global inove e experimenta, mas dentro da busca pela estética que se distancia cada vez mais da emoção. O modelo colombiano é o que apresenta mais aberto, uma narrativa em busca, em exploração de novos caminhos.
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