terça-feira, 20 de julho de 2010

A lógica das telenovelas

Apoiando-se na ideia de que a cultura apresenta sua lógica própria, torna-se mais fácil entender o fenômeno de popularidade que se transformou a telenovela no Brasil. Se ela reflete ou influencia, aliena ou conscientiza, são várias as correntes de opinião que tentam dar respostas.

O que é indiscutível é que esse gênero cultural atinge de forma surpreendente e ascendente milhões de brasileiros todos os dias. E entender esse fato sem considerar o contexto sócio-econômico em que ele está inserido seria estudá-lo de modo limitado.

O Brasil, país das telenovelas é um local ainda marcado por um subdesenvolvimento lamentável que se reflete em educação precária e mal distribuída, profunda desigualdade de renda salarial, e baixo incentivo a práticas culturais como cinema, dança, hábitos de leitura, expressões artísticas, em geral, tanto as obras de arte, quanto as obras de pensamento.

Todo esse cenário favorece a busca por um entretenimento barato e de linguagem acessível por parte daqueles que têm acesso a poucos instrumentos de diversão e cultura, entre eles a telenovela. Uma fábrica de sonhos para quem é obrigado a encarar uma dura realidade na sociedade brasileira: os desempregados ou membros das classes C e D, por exemplo.

Todavia, as telenovelas não são apreciadas apenas pelos ocupantes das esferas mais baixas da pirâmide social. Para os mais abonados, tal programa reflete a realidade vivida por eles próprios, ou seja, assistem suas próprias vidas serem encenadas na televisão com uma dose de lirismo e emoção. Veem expostas na televisão cenas fantasiadas que lembram seus cotidianos. Trata-se da busca por uma arte mais popular que encene fatos corriqueiros do dia-a-dia e assim leve os espectadores a contemplar na televisão aquilo que vivem no seu cotidiano.

Por isso, as telenovelas retratam cenas comezinhas, como pessoas conversando na mesa do jantar, alguém acordando ou indo dormir, penteando o cabelo ou dirigindo em meio a um trânsito caótico. E mesmo as cenas que não remetem diretamente à realidade dessas classes sociais A e B são contempladas como um entretenimento que permite ver as tristezas da vida de um modo mais bonito, encenadas por atores conhecidos, e menos triste.
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