sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A telenovela peruana - Parte 3


O fator econômico

Outro fator que explica o modelo peruano de produção de séries, minisséries e telenovelas é o econômico. A história do Peru é uma história de inflações ou recessões, com curtos momentos de bonança, que não duram muito. A força de produzir em um país difícil economicamente já está associada à imagem do produtor como grande gestor dos recursos escassos. Não se pode dar ao luxo de grandes orçamentos. Os próprios gêneros que se pode produzir são exemplos disso.

A telenovela não somente conta com a simpatia do público latino, como também com a condição de produção do país: cenas dialogadas; cenários que se constróem uma única vez e que se aproveitam em 120 capítulos; técnicos e atores com salários fixos; em vez de pagamentos por empreitada; mecanismos que, em geral, permitem produzir capítulos em grande volume, tentando baratear os custos.

As séries policiais, de ação ou terror são gêneros caros e distantes. Houve-se tentativas neste rumo com Gamboa; La captura del siglo; Polvo para tiburones; La gran sangre e, recentemente, Calle en llamas, mas, geralmente, são produções isoladas que, diferentemente da telenovela, não geram uma oferta clara. Experiências como Mil oficios ou Así es la vida, são amostras de como a comédia e o humor tornam-se formatos longos, melhor se adaptando às condições de produção peruana.

O Peru cresce anualmente, em média, a um ritmo de 7%, mas os orçamentos de produção são menores que os dos anos 90. Enquanto outros setores do país se desenvolvem, os orçamentos de produção para a televisão mais parecem passar por uma etapa recessiva. Se na década passada um capítulo se produzia com cifras de 8 a 10 mil dólares, agora se produz com 60 ou 70% disso. Se nesse tempo também se investia em um roteiro de uma hora uma média de 500 a 600 dólares, agora se investe menos da metade.

A expansão da TV a cabo também tem comprometido a posição dos canais de sinal aberto e isso tem derivado em menores recursos para a produção de ficção. No entanto, por sua vez, o crescimento econômico, constante no país nos últimos anos, tem salvado as empresas que produzem séries e minisséries de âmbito mais local.

O poder aquisitivo e a capacidade de consumo dos setores populares tem aumentado nos últimos anos, tornando-os público importante para os anunciantes. Alguns canais de sinal aberto encontraram neste setor seu salva-vidas, uma parcela do mercado que está satisfeita com as séries e minisséries de enredos, temáticas e personagens mais localistas. Assim, neste primeiro decênio do novo século, empresas como Del Barrio, Chroma Producciones, Mapa, a falida Capitán Pérez, La luz e Imiza, iniciaram um novo ciclo de produções de minisséries trabalhadas nesta linha.

Atualmente, a quantia que recebem por capítulo não é alta, nem chega com muita antecipação. Isto tem um efeito direto sobre o acabamento dos episódios. Os roteiristas, produtores e diretores trabalham contra o tempo, o que sempre afeta a qualidade do produto, qualidade esta que pode funcionar para o mercado interno, mas que necessita um padrão de qualidade para o externo.
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