domingo, 6 de junho de 2010

TV Brasil apresenta Solas

A TV Brasil exibe neste domingo, 06 de maio, às 23h00, o filme espanhol Solas, produzido por Antonio P. Pérez sob a direção e roteiro de Benito Zambrano. O filme, gravado em 1999, conta, em 95 minutos, o transcorrer do breve tempo em que Rosa (María Galiana), passa na casa de sua filha María (Ana Fernández), ao chegar na cidade de Sevilla, deixando seu marido (Paco de Osca) hospitalizado.

María vive num pequeno apartamento de um bairro pobre e conflituoso. Eventualmente, realiza trabalhos domésticos para fora, já que, aos seus trinta e cinco anos de idade e com pouca educação, é socialmente desprezada. Por isso, no mercado das relações humanas, somente é capaz de se relacionar com um caminhoneiro que a engravida, porém que não a ama e não assume sua gravidez, restando à María como única companhia a bebida.

Rosa, sua mãe, sempre desperdiçou sua vida junto a um homem que sempre confundiu as carícias com as bofetadas. Ao chegar à casa de sua filha, Rosa passa a ser um estorvo, já que, por ser do tipo velha rabugenta, incomoda com o simples fato de sua presença, sem contar suas conversas. Tudo o que diz é dado como interferência na vida de María. A solução é ignorar sua presença, já que nada do que sabe ou diz é interessante, torna-se simplesmente um zero à esquerda.

Porém, mãe e filha têm algo em comum: a solidão. Seja no povoado ou na cidade, nenhuma das duas têm valor social. Como mulheres, uma acabada pela idade, e a outra passada da juventude, não têm nada a contribuir para com os demais. Não podem dar nada à sociedade, que é egoísta e centrada somente em bens materiais, onde tudo é relativo e intercambiável. Porém, às vezes, ambas têm algo mais que compartilhar: seus sentimentos e valores humanos: têm um conhecimento da vida e das pessoas. Este conhecimento pode ser compartilhado, mesmo não tendo nenhum valor econômico.

Rosa, passará a conhecer os diferentes problemas de sua filha, ao mesmo tempo em que trava uma amizade com um solitário e amável vizinho chamado Emilio (Carlos Alvarez Novoa), um velho viúvo que desfruta de seus últimos anos de vida junto de seu cachorro Aquiles. Ele também está sozinho, restando aos três somarem suas solidões, dando, assim, uma oportunidade de esperança.

Rosa se esforçará para cuidar, com o pouco que sabe, de sua filha; de seu marido no hospital, durante o dia e, inclusive, do vizinho. A atitude paciente, amorosa e discreta da mãe amolecerá o coração endurecido de sua filha, avivará as ilusões do vizinho e deixará uma estrela de esperança, dando a todos uma lição magistral de convivência e de humildade.

Benito Zambrano consegue concluir sua obra com um final distinto do qual qualquer espectador poderia ter imaginado. Tudo se conclui com uma cena final onde a morte não parece tão escura como se pode parecer, inclusive chegando a parecer plácida e tranquilizadora, enquanto que a vida aparece pela primeira vez como uma luz no fim do túnel na vida das protagonistas. E essa vida é encarnada por Rosa, a filha que nasce de María e recebe o nome da falecida avó.

Rosa aparece para María, assustada e desorientada, como uma revelação, e a libera de tudo aquilo que antes a havia restringido, de sua própria necessidade de viver limitada, de seu medo de se adentrar no mundo em que vive, realizar seus desejos e encontrar uma finalidade em sua vida.

Esse grande filme de Benito Zambrano assombra por sua sincera sensibilidade e mestria na captação e transmissão emocional. Zambrano utiliza sua primeira obra como longa-metragem para render tributo à geração do pós-guerra, marcada pelas penúrias econômicas e pela desigualdade social. Dentro dessa geração, destaca, em especial, a figura da mãe, sustento calado e abnegado da estabilidade familiar, em muitos casos vítimas silenciadas em uma infelicidade matrimonial, sofredoras em uma época marcada de atitudes machistas.

As belas imagens que servem para ilustrar este simples filme de crítica social, se encontram acariciadas por um realismo poético que impregna valiosamente boa parte do filme, enaltecendo, ainda mais, os temas que o diretor maneja: a solidão, a velhice, a falta de comunicação, o destino, a amizade, a desprendida generosidade materna, o ciclo vital ou os problemas sociais e materiais, tangidos por um tom triste e melancólico que se torna um aflito, porém otimista, final.

Essa obra prima de Zambrano estreou desapercebida pelo ano de 1999, porém conseguiu se manter durante mais de um ano em exibição nas salas espanholas. Com um elenco vindo, em sua maioria do teatro, essa obra cativou o público e a critica, por seu roteiro, qualidade e personagens, ganhando cinco prêmios na XIV edição do Goya: Direção (Benito Zambrano), Roteiro original (Benito Zambrano), Intérprete feminina (María Galiana), Atriz revelação (Ana Fernández) e Ator revelação (Carlos Álvarez), além de ter colhido diversos prêmios em Berlim, Tóquio, entre outros festivais.
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Um comentário:

Eliana Afonso disse...

Assisti ao filme e concordo plenamente com a crítica. Um filme excelente que nos envolve tocando fundo em nossa sensibilidade. Indiscutível o talento do diretor que além de contar a história com tamanha habilidade questiona as mazelas sociais, econômicas e de relacionamento do pós guerra.
Eliana Afonso