domingo, 9 de maio de 2010

As estratégias das telenovelas

As novelas brasileiras deixaram de ser, há muito, um fenômeno estritamente nacional. Exportadas há décadas, elas ganharam o mundo - e muitos executivos de comunicação, de diversos grupos estrangeiros, vêm ao Brasil para conhecer a TV Globo e saber mais sobre a produção de seus folhetins eletrônicos. Nessas visitas, há sempre dois momentos de espanto. O primeiro é quando se descobre a capacidade de produzir, com qualidade, enredos em escala industrial. O segundo - em que a curiosidade costuma ser maior - é quando se constata que uma trama cuja audiência vai aos píncaros chega ao fim após alguns meses.

Nos Estados Unidos, na China e mesmo no México, novelas costumam durar anos, desde que estejam agradando ao público e mantendo anunciantes. Os gringos têm razão em se espantar. Mas o que os estrangeiros encaram como aberração é, na verdade, o grande segredo da sobrevivência da telenovela nacional. Seu fôlego e brilhantismo residem justamente na ideia de terminar no auge. É a garantia de que a próxima trama que irá ao ar será esperada com ansiedade e, portanto, com potencial para o sucesso.

O chamado horário nobre da TV é uma instituição nacional. A começar pelo próprio título: há tempos uma novela das 8 não começa antes das 9 da noite. Isso ocorre muito por causa dos temas, cada vez mais adultos. Nunca, porém, passou a ser chamada ''novela das 9''. É o momento que reúne a família: todos já chegaram do trabalho, o jantar já terminou, crianças e adolescentes ainda não foram dormir. É a novela a que o público masculino mais assiste. Nos cerca de 50 minutos de programação, concentra-se o padrão de qualidade na TV. Se um dia se falou que a televisão é um veículo que entra na casa do telespectador, então a palavra de ordem da novela hoje é invadir a vida real.

Nos primórdios, a telenovela era transmitida ao vivo, custou a ter capítulos diários e não pressupunha grande planejamento. Hoje, porém, atingiu-se o auge em termos de qualidade. Com um gasto médio de R$ 100 mil por capítulo, a produção de uma novela reúne profissionais de primeiro time, tecnologia de ponta e uma estratégia de divulgação e difusão como poucos outros produtos no mercado.

Quem está sentado no sofá assistindo a um capítulo de novela certamente faz uma vaga ideia de como ele foi produzido, mas, mesmo com algum esforço, é difícil ter a noção exata do quebra-cabeça de profissionais, equipamentos e estratégias que leva uma novela ao ar.

A primeira lição é a de que tudo começa muito, muito antes do ''gravando!''. A decisão de que determinada novela será exibida num certo horário é tomada um ano antes de sua exibição. Os autores da Globo escrevem sinopses que são analisadas pela cúpula da emissora. Quando uma sinopse é aprovada, discute-se qual será o núcleo responsável pela novela a ser produzida. Daí para a frente - e estamos falando de pelo menos seis meses antes de a novela ir ao ar -, diretores de todas as áreas estabelecem um calendário de reuniões para levar o processo adiante.

Normalmente, autor e diretor escolhem o elenco juntos. Levam em conta perfil de personagens, alternância de astros e estrelas e, é claro, preferências pessoais. Uma vez definida a equipe, dos diretores aos contrarregras; montados os estúdios e cidades cenográficas; e feito o planejamento para a produção, é hora de ir para o set. Assim, quando a novela for ao ar, haverá pelo menos dez capítulos já gravados. Isso, porém, varia de autor para autor e, ao longo da novela, a margem também costuma mudar. Estima-se que hoje, por dia, sejam gravadas 25 cenas de estúdio e dez externas.

Ao contrário do que muita gente pode pensar, nada é gravado em ordem cronológica. Nem os capítulos, nem as cenas de cada capítulo. Para que haja produtividade, grava-se o máximo de cenas num mesmo estúdio ou locação, com o mesmo grupo de atores. Na produção de uma novela, o dia-a-dia já é feito de um montar e desmontar de estúdios sem igual. Se fosse tudo produzido na ordem em que vai ao ar, provavelmente custaria o triplo do tempo para gravá-la.
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