terça-feira, 11 de maio de 2010

Do melodrama à telenovela - Parte 2

Sobre a origem das telenovelas parece não existir controvérsia: alguns especialistas no assunto coincidem em situá-la dentro deste gênero denominado melodrama, já que as duas fontes que as compõe: o teatro e a literatura, provém justamente desta forma artística.

É certo que duas trajetórias, a dramática e a literária, têm seguido as telenovelas que conhecemos e estas têm se entrelaçado e evoluído com o desenvolvimento do próprio avanço tecnológico da televisão, permitindo, assim, a gravação em mídias, o que impulsionou a comercialização de uma mesma obra em diversos países e sua tradução a idiomas diferentes.

A telenovela é descrita como um melodrama que respeita os elementos narrativos básicos do romance literário, ainda que dividido em capítulos, para seriar a trama, e episódios que, por sua vez, são fragmentados para poder introduzir anúncios publicitários que, usados como gancho para o suspense, mantêm o interesse do telespectador.

Isto nos leva diretamente a observar a relação entre a telenovela e o telenoveleiro (pessoa que gosta e é assíduo receptor do gênero), como um processo de desenvolvimento evolutivo, uma relação que tem se dado ao longo do tempo. É certo que a história da telenovela tem mudado e o público, reflexo da sociedade ou uma parte da mesma, muito tem contribuído para esta mudança, que exige e reforça seus valores através de situações e soluções que se dão em suas histórias.

Mas, para se entender o gênero da telenovela tal como é exibida atualmente, convém voltar alguns séculos na história e analisar a estrutura básica do melodrama, que foi o sucessor da tragédia e ajudou a definir o perfil estilístico que viria a ser aplicado na novela a partir de 1941, no Brasil, e na telenovela a partir da década de 50, com a inauguração da televisão brasileira.

Nessa fase de estreia, o gênero surge através de histórias folhetinescas e melodramáticas, cujo foco principal de alcance era o público feminino, composto em sua extensa maioria por donas-de-casa.

Até atingir o posto de um dos programas de maior audiência da televisão brasileira, a telenovela foi antecedida por diversos gêneros que foram lhe cedendo algumas de suas características. Os principais antecedentes da telenovela podem ser assim definidos: o romance europeu do século 19; o romance em folhetim também do século 19; a radionovela (soap opera americana); a fita-em-série norte-americana; a dramatização radiofônica de fatos reais; a fotonovela; as histórias em quadrinhos e o melodrama teatral. Além destes, de acordo com estudos de diversos autores a origem da telenovela está ligada também ao circo e à cultura verbal popular e à literatura de cordel.

A telenovela brasileira foi também, com o tempo, se desligando dos seus modelos mais tradicionais, como os mexicanos, cubanos e argentinos. Hoje com identidade e características próprias, a novela brasileira tem a intenção específica de aproximar-se cada vez mais da realidade do país. Essa categoria de ficção televisiva conseguiu se desenvolver como gênero e um fenômeno na televisão, com marcas genuinamente nacionais.

Atualmente, a telenovela brasileira reúne uma vasta opção de estilos que vai desde a comédia, passa pela crítica social, pelo enfoque da tragédia urbana, até as adaptações literárias, e as novelas de época.

Cassiano Gabus Mendes, falecido ator, roteirista, diretor, produtor, sonoplasta, contrarregra e autor de telenovelas brasileiras e adaptações latinas, descreveu os elementos principais que propiciaram a construção das características próprias da telenovela no Brasil, adaptando a teledramaturgia mais à realidade brasileira do que à matriz melodramática:

a) Anti-heroi como protagonista;
b) Linguagem coloquial, com expressões e gírias;
c) Trilha sonora com músicas pop;
d) Interpretação naturalista, sem gestos e entonações excessivamente dramáticos;
e) Cacos, ou seja, improviso, palavras ou frases que não constavam do script;
f) Referências a fatos reais com personagens que comentavam notícias de jornais;
g) Merchandising.

O crítico e historiador da televisão brasileira Artur da Távola definiu criteriosamente o perfil da telenovela brasileira. Em seis tópicos, esse seria o padrão do “produto novela” a que milhões de brasileiros consomem diariamente:

1) Destina-se a um consumo indiscriminado. Enquanto havia apenas a tecnologia do livro, este, necessariamente, discriminava o consumo, pois só chegava aos letrados. A telenovela chega ao culto e ao não culto;
2) Vive da aceitação do mercado. O telespectador é pesquisado, conhecido, logo sua opinião tem peso;
3) Seu mercado se manifesta ao longo dos capítulos e precisa ser permanentemente consultado por pesquisas;
4) A produção precisa obedecer a um veloz andamento para não comprometer o fluxo dos demais programas. A telenovela, na sua realização, possui um ritmo industrial sendo, portanto, muito mais um serviço dramatúrgico do que, propriamente, uma categoria estética;
5) As proposições estéticas e culturais devem-se enquadrar no repertório conceitual do público. Jamais, numa telenovela, o autor pode fazer um discurso isolado, sem estabelecer, para o que queira dizer, pontes de relacionamento com o público;
6) Dificilmente a telenovela é obra de um criador isolado. O resultado final depende da equipe realizadora e dos propósitos e condições oferecidas pelo canal produtor, embora, por outro lado, apesar disso, possa haver a presença estilística dos autores, marcando acentuadamente o produto.

A novela é condicionada aos rigores da audiência e do patrocinador, já que a televisão opera dentro de padrões industriais, onde se busca atingir o maior número de espectadores no menor espaço de tempo possível. Todavia, a criatividade do autor e o seu domínio por um enredo bem amarrado e que emocione o público ainda são essenciais na produção desse gênero televisivo.

Cada vez mais, acompanha-se o desejo dos autores de darem grande ênfase ao realismo nas novelas, estimulando a sociedade a debater questões emergentes da atualidade, a enriquecer a reflexão sobre temas polêmicos, promovendo discussões que geram tensão e troca de ideias.

Nesse sentido, essas seriam algumas das características realistas presentes na narrativa das telenovelas:

a) A ação das tramas tem de ser de grande intensidade, mostrando a luta dos bons contra os maus para a vitória da verdade;
b) Personagens e fatos semelhantes às pessoas e à vida cotidiana. As telenovelas reproduzem a fala coloquial e reportam-se constantemente a fatos que estão ocorrendo no período em que estão no ar;
c) O homem é produto do meio: o personagem age conforme o seu ambiente;
d) As personagens agem sempre de acordo com a sucessividade dos fatos e presos a modelos estereotipados. É rara a presença de personagens com densidade psicológica nas telenovelas;
e) As ações são descritas com o maior detalhamento possível, objetivando mostrar a realidade com a máxima fidelidade;
f) Sequência lógica na apresentação dos episódios que constituem o enredo. As telenovelas encadeiam as tramas e sub-tramas de maneira que o espectador jamais se perca nas subjetividades’ da narrativa.

Referindo-se especificamente ao México, é importante mencionar que a telenovela tem um de seus antecedentes na época de ouro do cinema mexicano, onde o melodrama se desenvolveu com toda sua riqueza. Os melodramas no México, ainda hoje, têm alcançado grande auge em forma de telenovelas, e tem se diversificado em subgêneros como: telenovela infantil e juvenil, telenovela educativa ou telenovela histórica. Dada a vitalidade com que continua se apresentando, podemos pensar que no futuro certamente haverão muitas surpresas.
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