sábado, 15 de maio de 2010

A dublagem - Parte 1

Na era atual, as fronteiras geográficas e econômicas são progressivamente superadas e a tecnologia da informação torna factível a construção de uma via de trânsito rápido de extensão mundial.

A informação trafega com rapidez e precisão, chegando instantaneamente a qualquer parte do globo terrestre, como talvez nem os maiores gênios da ficção científica imaginariam há algumas décadas.

A produção cultural e de entretenimento vive um grande momento, com lançamentos simultâneos em vários países, sem a defasagem de meses ou até anos, como ocorria em década passadas.

Com tantas oportunidades, o idioma não pode representar um entrave à comunicação. É, nesse ponto, a tradução cumpre sua missão, porém, não basta meramente traduzir, é preciso que a mensagem esteja adaptada à cultura do público alvo, ao seu modo usual de comunicar-se, para que seja compreendida de forma plena.

Surge então a dublagem, também chamada de regravação, que é o processo através do qual os diálogos originais em determinado idioma são substituídos por áudio em outro idioma, com sincronia labial e interpretação baseada naquela do ator original da novela, filme, série ou desenho animado.

Em outras palavras, o espectador assiste ao produto audiovisual no seu idioma local, como se as personagens estivessem se comunicando na sua própria língua. A regravação é resultante da mixagem (mistura) de diálogos gravados em estúdio, áudio captado na gravação original da cena, música e efeitos sonoros.

A dublagem nasceu no rastro do cinema sonoro. Os filmes eram mudos até 1927, quando chegou às telas O cantor de jazz. A começar dessa produção, o público pôde finalmente ouvir os atores.

Com a euforia produzida pelo cinema sonoro, surgiu um problema: como as plateias que não falavam inglês iam assistir aos lançamentos de Hollywood? Para contornar essa situação, grandes estúdios como a MGM e a Paramount chegaram a filmar em Paris versões francesas de longas-metragens americanos. Claro que esses filmes em duas versões eram muito caros - e ainda assim não atingiam o público dos tempos do cinema mudo.

A solução apareceu em 1930, quando os diretores Edwin Hopkins e Jacob Karol lançaram The flyer, o primeiro filme a utilizar um sistema de sonorização que permitia substituir as vozes originais por outras gravadas em estúdio.

Países europeus pegaram carona nessa invenção e soltaram os primeiros filmes dublados ainda no começo dos anos 30. No Brasil, onde os longas estrangeiros passavam com legendas, a novidade da dublagem chegou no fim da década - o grande marco foi a estreia do desenho animado Branca de Neve e os sete anões, de Walt Disney, lançado em 1937 e dublado no ano seguinte. Naqueles primórdios, os atores tinham de gravar todos juntos no estúdio, olhando para a tela sem a ajuda do som. Hoje, os dubladores gravam suas falas sozinhos, com a ajuda de um fone de ouvido onde rola o texto original.

A dublagem tem a possibilidade de adequação da interpretação (inflexões de voz, por exemplo) à cultura local, tornando as intenções de um diálogo mais claras, adicionando tons de ironia, menosprezo, satisfação, tristeza, ênfase, que talvez não ficassem tão claras em uma tradução escrita (legenda), principalmente no caso de idiomas pouco familiares aos ouvidos do espectador.

Há uma série de fatores condicionantes de ordem técnica e artística, para que uma dublagem atinja seus objetivos com eficácia, a começar pelo texto. Quer seja uma produção com fins de entretenimento ou de comunicação corporativa, o texto deve ser adaptado em termos de métrica, sincronia labial e estilo linguístico, para que pareça ser de fato dito pelos personagens na tela e soe da forma mais natural possível, como soaria no "mundo real" do espectador.

Em se tratando da tradução, os profissionais responsáveis também precisam dominar o assunto em foco - ou pesquisar sobre ele - para que a produção “conquiste” quem conhece o tema e leve informação correta e enriquecedora a quem não o conheça.

Outro fator essencial a uma boa dublagem é o elenco escalado. Adequação de timbre vocal, interpretação convincente, sensibilidade para assimilar e reproduzir a emoção do personagem em outro idioma, são características que fazem toda a diferença entre uma dublagem excelente e uma péssima.

Por isso, a dublagem é realizada por atores com a habilitação legal necessária ao exercício da profissão. Os atores são escalados e supervisionados por um diretor de dublagem, que além de também ser ator e reunir as características acima, tem a habilidade de enxergar a obra como um todo e conduzir o elenco na direção pretendida pelo diretor da produção original.

Quanto ao aspecto técnico, a gravação e mixagem de áudio (proporção entre diálogos, música e efeitos sonoros) exercem impacto fundamental no resultado final da obra dublada. É preciso que o espectador perceba "planos" diferentes de áudio, dependendo da distância em que os personagens se encontrem na cena; é preciso que haja ambientação, de acordo com o que seria a acústica natural da locação filmada na cena; é preciso que os diálogos sejam inteligíveis mesmo em meio aos ruídos (efeitos sonoros) e à musica incidental, por mais “presentes” que necessitem estar; e, muito importante, é preciso que se acredite que o som de fato sai da boca do personagem, e não do “além”. Os recursos digitais atuais permitem a experimentação até chegar-se ao ponto ideal de mixagem, possibilitando resultados realmente impressionantes em termos de qualidade, realismo e distribuição espacial do áudio.

Colaboração: Dublamax
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