quinta-feira, 20 de maio de 2010

A fonte de inspiração das telenovelas mexicanas

A transcendência cultural do gênero telenovela se baseia em sua condição de produto comunicativo utilizando-se de seu êxito entre o público como suporte de ações comerciais com fins persuasivos e mercantilistas, combinados com marcas culturais e tradições da cultura popular.

Sua repercussão é um fenômeno de adequação de textos para a televisão, mas, sobretudo, de um encontro entre o público e seus relatos mais próximos, que são transmitidos em uma linguagem conhecida e facilmente identificável, com os valores e emoções que perduram através do tempo.

A telenovela latino-americana é uma complexa matriz que, em sua composição se baseia no folhetim europeu, no melodrama, no cinema, na soap opera, na radio-novela, nas historinhas e até mesmo nas de manchetes de jornal. Porém, uma das estratégias mais recorrentes na trajetória de produção e realização de uma telenovela tem sido a reciclagem de histórias provenientes de outros meios e âmbitos da indústria cultural.

A realização de versões de histórias escritas para outros meios e suportes culturais, o chamado “remake”, tem como base histórias já testadas e aceitas pelo público, histórias que se mantém na memória coletiva e que retornam em novas adaptações, com audiência e aceitação garantidas, sobretudo entre a geração que desfrutou a versão original.

A seguir, será relatado como foi o fluxo das teledramaturgias de amor ficcional das histórias mexicanas, realizadas e difundidas até inícios do ano 2000. Observamos que a produção de telenovelas no México, desde a pioneira, Senda prohibida, adota como tendência fundamental a retomada de narrações provenientes de outras culturas locais, e com o passar do tempo, da reciclagem contínua e variada de histórias televisivas próprias.

Em menor quantidade, aparecem nestas produções histórias originais escritas expressamente para a televisão, tendência que se aplica quase que absolutamente às telenovelas mexicanas de temática histórica, que, na maioria das vezes, trazem um excelente trabalho de pré-produção e reprodução de variadas épocas.

Entre os exemplos selecionados para mostrar as tendências fundamentais deste fluxo de histórias de amor, estão os seguintes:


A RADIONOVELA CUBANA

As rádio-novelas mexicanas baseadas nas histórias de Caridad Bravo Adams, mexicana que residiu e trabalhou em Cuba durante décadas, tiveram um espaço privilegiado em emissoras de Havana, tais como RHC Cadena Azul e CMQ Radio, ao longo de dezessete anos.

Desde 1960, com a volta da autora à sua pátria, se iniciam as adaptações dessas histórias radiofônicas para a televisão mexicana, que, por sua vez, são reproduzidas até os dias de hoje em múltiplas versões. A primeira delas foi neste mesmo ano e se chamou Estafa de amor I, dirigida por Ernesto Alonso e protagonizada por Lorena Velázquez, Enrique Lizalde, Julissa, Jacqueline Andere, Miguel Manzano e Fanny Shiller. Novela esta que, em sua versão original, datada de 1952, foi transmitida entre as rádio-novelas cubanas e que, em 1954, passou para o cinema.

Após, muitas rádio-novelas transmitidas em Cuba se somaram a múltiplos conteúdos de diferentes mídias e culturas, especialmente na telenovela mexicana. Esse foi o caso de Pecado mortal e El otro (1960), La mentira (1964), Corazón salvaje (1966) e Yo no creo en los hombres, com sucessivos remakes na televisão mexicana. As obras realizadas por roteiristas de rádio-novelas transmitidas em Cuba antes de 1960 tem sido significativas na composição de telenovelas mexicanas: Exemplos:

Inés Rodena
Rina (Desprezo); Viviana; Os ricos também choram; Soledade; Maria Mercedes; Prisioneira do amor; Marimar; La dueña; Maria José; Maria do bairro; Acapulco cuerpo y alma; Sin ti; A usurpadora e Camila.


Delia Fiallo
Rosa selvagem; Morelia; Esmeralda; Cristal; Vivo por Elena; O privilégio de amar e Rosalinda.


Olga Ruilópez
Preciosa; Amor cigano; Renzo el gitano e El niño que vino del mar.


René Muñoz
Quinze anos e Cuando llega el amor.


Leandro Blanco
Ave sin nido e Anita de Montemar


Hilda Soriano
Alma rebelde

Este processo envolveu não somente os roteiristas que emigraram de Cuba, mas também os outros como Félix B. Caignet, Aleida Amaya, Iris Dávila, Josefina Enríquez, Roberto Garrida, Nora Badias e Alberto Liberta, que se mantiveram em Havana.


O CINEMA

Este imenso fluxo de histórias de amor entre diferentes mídias se tornou uma constante na produção de telenovelas mexicanas, que, em menor quantidade, adotou como fonte histórias levadas ao cinema. Este foi o caso de La leona (1960), história da mexicana Marissa Garrido que combinou os argumentos dos filmes La mujer sin alma e Mildred pierce. Teve seu remake em 1971, com o título La mujer marcada, e, em 1995, sua terceira edição, em Si Dios me quita la vida.

Desta autora também vieram Dicha robada (1967), que combinou as tramas dos filmes americanos Love affair (1939) e seu remake Algo para recordar (1957), assim como La sospecha, filme de Hitchock de 1941. Sua segunda versão como telenovela no México, apareceu com o nome de Nuevo amanecer, em 1979, e outras como Alcançar uma estrela I (1990), inspirada no filme Nace una estrella (1937), que havia tido uma segunda versão em 1954 e uma terceira em 1976. Houve na televisão mexicana uma segunda parte, em 1991, e outras telenovelas como Baila conmigo e De frente al sol (1992) e Agujetas color de rosa, de 1994.


OS ROMANCES LITERÁRIOS

As adaptações de romances literários clássicos aparecem, por exemplo, em Grandes ilusiones, de Dickens (1961) e Cumbres borrascosas, de E. Bronté, em 1964, que obteve uma segunda versão em 1988, intitulada Encadenados. Este fenômeno aparece também em La traición, inspirada em El conde de Montecristo, de Dumas. Esta tendência parece ser a menos preponderante na produção de telenovelas mexicanas.


AS HISTORINHAS

Outras das fontes importantes que inspiraram as telenovelas mexicanas foram as historinhas, em especial, as escritas por Yolanda Vargas Dulche desde a década de 40. A partir daí, surgiu Yesenia (1970) que já havia sido filmada. Sua segunda versão televisiva foi em 1987.


OUTRAS TELENOVELAS

Entre outras fontes, as telenovelas mexicanas se nutrem de séries produzidas originalmente por outras emissoras. Assim aconteceu com Muchachia italiana viene a casarse (1972), baseada na telenovela homônima argentina, e com Mundo de juguete (1974), adaptada por Luis Reyes de la Maza, produzida e dirigida por Valentín Pimstein e protagonizada por Graciela Mauri, Sara García e outras figuras, como Gloria Marín, Evita Muñoz, Irma Lozano e Eduardo Azcaraz. Se tornou filme nos anos 50 e telenovela sob o título de Papá corazón, com 60 capítulos na Argentina, todas baseadas na história de El pequeño príncipe.

Quando a Televisa adapta a história de Simplemente María em 1988, o consórcio TSM já havia transmitido a história original em 1969 e com um enorme êxito. Esta radio-novela, original da argentina Celia Alcántara, foi adaptada pela televisão argentina entre 1967 e 1969. Rapidamente, a emissora Panamericana, do Peru, comprou seus direitos, contratou Alcántara como consultora, e vendeu a produção para 14 países, entre eles, o México, onde foi a primeira telenovela estrangeira a ser transmitida. Também circulou como radio-novela no Peru e em diversos países, entre eles Espanha, Colômbia e México e, como telenovela, no Brasil e na Venezuela dois anos depois. Em 1980, teve um remake na televisão argentina, intitulada Rosa de lejos. Além disso virou foto-novela, livro e filme de cinema por duas vezes. Simplemente María é considerada junto a El derecho de nacer, a telenovela de maior circulação continental em diversos tipos de mídia.

A continuidade dessa estratégia artística e comercial é significativa em uma emissora mexicana criada em 1993, a TV Azteca:

1997

Olhar de mulher: história da telenovela Señora Isabel, do roteirista colombiano Bernardo Romero Pereiro. Após o remake mexicano, a história foi apresentada em um livro que se tornou um sucesso editorial, vendendo, em apenas duas semanas, 35.000 exemplares de uma edição de 100.000 tiragens.

Tentaciones: originalmente uma telenovela colombiana de Romero: Sangre de lobos.

La chacala: também inspirada em uma telenovela de Romero: Las profecías.

1998

Chiquititas: versão homônima do original argentino, que se tornou um fenômeno de marketing em suas versões latino-americanas, porém, no México não obteve a audiência esperada.

Perla: remake de Perla negra, telenovela argentina, de 1978.

1999

Háblame de amor: história adaptada por Erick Vonn, baseada em Amor en silencio, de 1988.

Marea brava: versão da telenovela chilena Mar paraíso.


Nos anos 90, vários fatores geraram uma maior cautela nos investimentos em obras não reconhecidas pelos públicos da Televisa e da TV Azteca, o que intensificou a adaptação de histórias exitosas de outras décadas e de outras emissoras, fundamentalmente, da Venezuela e da Colômbia, se valendo de roteiristas como Delia Fiallo e Bernardo Romero que passaram a trabalhar nas produtoras mexicanas.
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